AH, SE NÃO FOSSE A MÂO DE DEUS!

Lêda Torre

Primeiro, meu Deus, muito obrigada pela tua proteção e cuidado para comigo! Muito obrigada por ser meu Senhor e está no controle de minha vida, meu pai. Eu jamais vou esquecer quantas e tantas vezes, livraste-me da morte traiçoeira! Essa então, foi demais!! Vejam só.

Registrarei aqui, somente um pequeno episódio, dentre tantos que tenho observado a presença de Jesus Cristo na minha vida, foi o seguinte: certo dia, na minha infância, fui ao rio Itapecuru, um rio que banha a minha cidade de Colinas-Ma., lá pelas tantas de um sábado, com minha irmã Júlia, e outras meninas vizinhas, num local onde as lavadeiras costumavam lavar suas roupas, o Porto das Pedras, local que aparecia muitas cobras. Ui, que horror! Desse trecho nem gosto de lembrar.

Pois bem, era comum, as filhas mais velhas cuidarem da casa, divididas as tarefas e, a nossa era lavar a roupa suja da semana, incluindo nossos uniformes da escola, era sempre essa rotina, com hora marcada até de voltar. Nossa merenda era uma delícia, banana da casa grossa, chamada “babona”, ou três quinas, e o velho anexim de nossa mãe: "vou cuspir no chão", "e não esqueçam de que água não tem cabelos"...era a fala da sabedoria e, com seu ar de autoridade que é...

Eu tinha mais ou menos treze anos de idade, e Júlia, doze. Após concluirmos a lavagem das nossas roupas, que passavam por todo um processo, resolvemos tomar finalmente nosso banho naquelas águas, pular daquela árvore nossa amiga, que nos oferecia seus galhos sobre o rio, para pularmos deles, que bom que era! A nossa árvore companheira, parecia participar com cumplicidade daquela brincadeira de crianças...

Entretanto, na certeza do dever cumprido, era hora de curtirmos aqueles momentos de pular da árvore na água, e cair num redemoinho logo ali embaixo dela, olha que loucura! A correnteza era forte, mas não tínhamos medo de nada, e nossa mãe não poderia nem sonhar com uma coisa daquelas! O segredo era só nosso, ninguém poderia participar, esta era a sentença para nossas mães...

Nesse pula daqui, pula dali, começamos a sentir um cheiro forte que a sucuri exala, em rios quando sente a presa por perto, esse espécime, era comum naquela região... e mesmo assim, a gente apesar de ter medo, continuávamos na brincadeira. Aquele redemoinho era chamado de “purão”, e muitas vezes até nos apanhava em círculos, e nós meninada, naquele frenesi, ficamos muitas vezes rodando em círculos como se a força das águas nos sugasse para baixo, e nós achávamos era engraçado, e caíamos na risada, e ainda exclamávamos: que delícia...

Certa hora, ao subirmos na amiga árvore, para o famoso pulo, vimos outra cobra perigosa, escura, cinza com o papo amarelado, de nome jaracuçu, com mais ou menos dois metros de comprimento, bem enrolada e com sua língua em movimento na nossa direção, mesmo assim, driblamos a cobra e zapt! Pulamos e, que alegria! Deslizávamos como se fôssemos de isopô, boiávamos sempre ali no purão. Meu Deus hoje fica a pensar, quanta inocência, e quanto desprendimento nosso! Nessa hora ninguém lembrava se cuspe secou, ou não....

Porém, na hora que já nos preparávamos para voltar pra casa, pois, lembramos que o tempo estava escurecendo, era mais de dezesseis horas da tarde, o sol começava a declinar, e ali só chegavam pessoas para tomar banho, era comum, aquele ritual. Só que um fato inusitado aconteceu: de repente, uma garota do nosso grupo de pequenas lavandeiras, de nome Rosinha, até nossa parenta, estava se afogando, exatamente no purão, o tal redemoinho. Que agonia, e ninguém tinha coragem de socorrê-la. E agora? Imaginei. Não titubiei, joguei as chinelas japonesas para o alto, me joguei com a roupa e tudo, em direção da menina. Fui por trás dela, a empurrei, meio sem força, porque a correnteza das águas eram muito fortes, fui...fui..fui...até que ofegante, quase sem forças também, tornei a empurrar a menina rumo à margem, que era mais raso, e finalmente a menina foi salva, graças a Deus. Foi aí que me lembrei que nossos pais sempre nos ensinaram que “água não tem cabelos”, ditado que eu nunca tinha compreendido, até ali. Apesar do feito heróico, fomos todos apreensivos, por causa da hora, a “taca” era certa. Nossa mãe sempre foi muito disciplinadora, ainda mais porque ela sabia que era perigoso e nós não tínhamos limites, mesmo, ante aquelas águas... só lembrávamos que era gostoso aquele banho! ainda que o cinturão fizesse parte de nossa rotina...

No percurso de volta pra nossas casas, que éramos todos da mesma rua, nossas mães amigas, etc., combinamos todos de nada dizermos a nossas mães, porque a "pisa" ou "taca", era certa, pelo fato de ternos desobedecido, ainda mais que já era quase noite, e nossas genitoras já estavam pelos cabelos, de preocupadas.

Só que a história não encerra por aí. Tem mais. A Rosinha, ao chegar em casa, contou o ocorrido para sua mãe, nossa tia, meio distante. Lá na feira, as nossas mães se cruzaram e a mãe de Rosinha, agradeceu à minha, do feito, e ela sem saber do que se tratava, correspondeu ao ato de gratidão, mas...ao voltar para casa, foi logo me abordando, o que foi que eu tinha feito naquele dia do rio, etc,etc...olha eu, enrolada, tentei gaguejar, mas acabei narrando o ocorrido. Foi um sermão daqueles!! Imagina!! Mas dei graças a Deus, que ela só fez dar uns conselhos e proibiu a nossa ida, ao famoso rio, nem pensar!!

Passamos foi tempo, sem nem chegar perto do nosso rio...nem me lembro mais qual foi a última vez que fomos...apesar desses acontecidos tristes, mas passam cenas e mais cenas da minha infância e adolescência, como se fosse ontem, sinto muita saudades...

Lêda Torre
Enviado por Lêda Torre em 25/06/2010
Reeditado em 03/06/2015
Código do texto: T2339988
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