Quando os políticos eram amados

Nasci num dia 31 de janeiro no Hospital Bernardina Salles em Júlio de Castilhos. Meu nome deveria ser Ilda porque minha avó paterna era fã incondicional de Ildo Meneguetti, governador do Estado do Rio Grande do Sul e neste dia ele havia sido reeleito ou empossado, algo assim. As pessoas do povo homenageavam seus ídolos políticos colocando seus nomes em filhos e netos. Assim foi quando morreu Getúlio Vargas, homens choraram, literalmente. Hoje não vemos mais este fervoroso fã-clube. O Lula detém alguns admiradores no seu fã-clube bolsista, mas mesmo assim é visto com certa desconfiança. Um homem público, um governante podia ser amado pelo povo! É inacreditável para os dias de hoje. Getúlio, dirão alguns, tinha laços com o populismo, flertava com o autoritarismo, mas inegavelmente soube conquistar a admiração dos trabalhadores.

Hoje ninguém mais admira políticos. O povo não quer nem mais ouvir falar neles. Por que protagonizam tantos escândalos? Por que tão poucos são punidos? E quando o são, vide o caso Collor, retornam mais fortes do que nunca. Parece doença mal curada. Voltam a ser novamente ¨ Sua excelência¨!

Nós deixamos de admirá-los. Criou-se no país uma cultura de ceticismo em relação a homens e mulheres que nos representam na administração pública. Alguns dizem: ¨ é só votar melhor, escolher com responsabilidade¨; mas não é mais assim, o poder corrompe e este ainda é o país do Gerson. Para que tantos senadores? Para que tantos deputados federais? E para que tantos senadores e deputados ao mesmo tempo para fazer, em síntese, a mesma coisa? Verbas para tudo. Olha a saúde do povo brasileiro! Sabiam que o plano de saúde dos deputados e senadores é total e irrestrito? E ainda para doenças do afeto ou dentistas tem mais 25 mil reais cada um?

Ontem o delegado Protógenes Queiroz chegou à CPI dos Grampos, aplaudido na Câmara dos Deputados. Este homem deve ter calcanhar de Aquiles como todos nós, mas deixa um legado impressionante de tenacidade quando à verdade. Infelizmente, como disse um amigo meu, ele teve a infelicidade de ¨mexer¨ com o andar superior e somente por isso, caiu em desgraça. No Brasil, podemos apenas mexer com assuntos do mesmo ¨ andar ¨ , com nossos pares. Creio muito que as provas que o Delegado Protógenes possui são verdadeiras e penso que ele tem outras provas, contra muitas outras pessoas, mas infelizmente, isso não virá à tona, porque as provas que ele possui, farão cair a república!

Ah, se eu tivesse nascido noutros tempos... No tempo em que a ¨ pegação ¨ ainda não havia substituído as carícias, as mãos dadas.. No tempo em que não vivíamos presos nas nossas casas, dentro de jaulas construídas para proteção. Devia ter nascido na época em que se podia ir pra praia de carona, e que casas em Torres, Cidreira e Capão eram seguras e de pátio aberto. Quando o aquecimento global era fantasia na cabeça louca de cientistas, e crianças brincavam sem que as mães tivessem medo de que fossem roubadas, atropeladas, seqüestradas... Mas como viveria sem a tecnologia, as facilidades de comunicação, estudo, diversão? Conseguiria carregar uma câmera com filmes para todos os lugares, e esperar para revelar as fotos? Conseguiria manter contato com amigos e ex-colegas somente por cartas, ou com alguma sorte, por telefone?

É, se nossa esperança não mantiver vivo o desejo de um mundo melhor, o mundo de sonhos seria negro e nossa vida perigosa e monótona aconteceria dentro de cavernas.

Rejane Savegnago
Enviado por Rejane Savegnago em 25/06/2010
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