MELHOR QUE DAR O PEIXE É ENSINAR A PESCAR – FINAL

Finalmente cheguei a parte final da minha crônica. Digo cheguei porque é um assunto que não teria fim se eu “inventasse” de ir colocando, aqui, todos os recados de e–mails com suas sugestões e reflexões sobre o tema. Mas, as minhas reflexões, juntamente com os diálogos dos colegas de profissão, só valorizaram o que foi escrito aqui. Eles – os diálogos (reais) e as reflexões – mostram que uma boa parcela se preocupa, efetivamente, com a situação pela qual passa a Educação.

Por isso, nesta última crônica sobre esse tema, apenas quero deixar as minhas considerações – usando trechos de discursos de outros educadores – de mais de duas décadas de vivência, estas, pelos corredores da profissão que abarquei.

Acredito que o processo educativo se dá quando nós interligamos as diversas realidades existentes em pequenas teias de conhecimentos. Unir esses conhecimentos, como se fossem colchas de retalhos, é um desafio para aquele que se diz educador e que, diante da atual conjuntura, deverá ser chamado, também, de mediador, multiplicador e, até, pesquisador (como bem falou a professora Sônia, do Departamento de Inclusão da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, em palestra para os professores formadores e professores tutores do Programa Proinfantil), pois tem a tarefa de disseminar esses conhecimentos, adaptando-os à sua realidade, produzindo múltiplas possibilidades dentro do ensino e da aprendizagem.

Confesso que a palavra “pesquisador” me chamou a atenção, inclusive, com a minha concordância. E, com toda certeza, todo educador deveria ser um decidido pesquisador, pois, pesquisar é a capacidade humana de buscar o novo, de descobrir, de informar-se e, neste caso especifico, pesquisar para poder compreender o universo de cada educando seu. Assim, ao compreender a heterogeneidade da sala de aula, ele, o professor pesquisador, interage com o aluno – e vice-versa – produzindo, no ensino-aprendizagem, a plasticidade no aprender, essa, de forma planejada e interagida.

Por outro lado, o modelo de escola que conhecemos ainda passa pelo processo de atualização. Esse processo se dá, infelizmente, mais lento do que poderia ser e/ou precisaríamos que fosse, apesar de ser gradual. Em outras palavras, essa escola ainda é primitiva diante do avanço do mundo onde ela está inserida e, devido a essa condição, ela ainda impede/retarda o desenvolvimento de quem adentra seus muros.

Mas, por que primitiva? Simplesmente porque ela ainda se alicerça na punição. Ao dizer “não” ela obriga, àqueles que a procuram, a uma condição de submissão, passando a exercer uma relação de desigualdade. No próprio momento que ela avalia apenas o seu resultado final, não contemplando todo o processo desenvolvido até o fim, ela se torna excludente e, claro, passa a beneficiar a classe mais favorecida de uma sociedade de consumo, criando, com isso, um paradoxo institucional, pois, segundo o professor doutor Wilson Correia, da Universidade Federal do Tocantins, ela cria uma escola para quem manda e outra para quem obedece. Ou seja, privilegia o “ter” jogando para o escanteio o valor do “saber”.

Porém, não deveria ser assim. O que devemos entender é que, essa escola, é uma instituição social que se encontra no mesmo patamar das outras instituições sociais e, por isso mesmo, “ela age (ou deveria agir) de mãos dadas com outras instituições sociais e, com elas, compartilhar o trabalho de contribuir para um projeto de nação. Desse modo, em pé de igualdade, a escola deveria ser compreendida como aquela instituição que tem limites e alcances condicionados pelo conjunto de instituições sob as quais as pessoas se encontram. A escola não é maior, melhor ou mais importante do que nenhuma outra instituição social, ainda que lhe caiba a tarefa, socialmente significativa, que é a de lidar com o conhecimento sistematizado”, segundo o mesmo professor doutor Wilson Correia, em seu artigo “O que é isto, a escola?”

Diante dessas adversidades, o que queremos, na verdade, é que ela seja atual, tanto física como humana, e decodifique os vários significados produzidos por essa sociedade globalizada, ressignificando, portanto, a sua forma de atuar junto ao seu objeto de existência.

Isso não significa, de forma alguma, que ela não avançou ou tentou avançar. Não é isso. Não se pode negar os esforços de uma boa parte das autoridades – políticas e educacionais – para tentar compreender esse processo educativo de uma forma mais ampla, contemplando a diversidade de cada região existente em nosso país. Alguns programas são bons. Alguns núcleos se esforçam, com seus técnicos, para mediar/repassar conhecimentos para as suas circunscrições. Existe uma gama de especialistas preocupados em moldar um novo paradigma educacional. A própria escola pública já se preocupa com uma grande parcela da nossa sociedade, hoje considerada mão-de-obra não qualificada e, pior ainda, desempregada até para serviços mais elementares – compreendida de jovens entre 18 e 29 anos – e que se encontra fora das salas de aula, capacitando-os, profissionalmente, em programas inclusivos. Enfim, os esforços estão sendo feitos, diga-se de passagem, mas os dividendos a serem colhidos talvez não sejam suficientes para se mudar o desenho desse quadro chamado realidade.

Por fim, o sonho é poder trazer para esta realidade, primeiro, a valorização do profissional, elevando a sua autoestima; segundo, inserindo esse profissional no mundo globalizado; terceiro, treinando-o e capacitando-o com as novas ferramentas que auxiliam a educação e, com isso, diminuir essa defasagem entre as gerações e, por último, acreditar que tudo isso é possível se pensarmos numa sociedade mais justa, igualitária, solidária e mais humana.




Obs. Imagem da internet

Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 27/06/2010
Reeditado em 07/12/2011
Código do texto: T2343938
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