Direto do meu mundico!

Tenho um velho amigo que sempre diz uma frase que me faz rir muito: “Como o meu mundico é pequeno, como é pequeno o meu mundico”. Quantas vezes essa frase é dita serão também tantas as vezes em que rio com riso farto e estourado, sempre. Enfim, escrevo diretamente do meu mundico, pequeno também, como penso que deve acontecer com a maioria dos mundos pessoais. Então, estou eu aqui olhando preguiçosamente partes do revestimento de uma parede que insistem em estufar como que me pedissem para serem retiradas, e que eu insisto em deixar para fazer em um outro dia qualquer. Às vezes, um pedacinho cai chão, pobre revestimento, cansou de esperar e resolveu abandonar por si só meu mundico. Esqueço o revestimento fujão e ingrato e mergulho a cara em algumas páginas de um livro. Entre um parágrafo ou outro cochilo até deixar que o domingo também me abandone sem fazer grandes ruídos, fugindo da mesma maneira como caiu o pequeno pedaço de argamassa, quase flutuando, em um único som: "klik"; um clique quase inaudível ao tocar o chão. Nesse domingo meio gelado, ao invés de estar com o rosto mergulhado em páginas, seria bem melhor que ele estivesse pousado entre um obro e uma nuca, e meu queixo somente um pouco abaixo de um outro, e algumas unhas ainda a serem aparadas (afinal seria domingo), machucariam gentilmente a pele do meu rosto, insistindo em vão em sua dura tarefa de me manter acordado, e eu, é lógico, insistiria na minha fácil tarefa de estar adormecido. E o livro, pobrezinho, caído em algum lugar, não se sabe onde.

Carlos Magni
Enviado por Carlos Magni em 07/09/2006
Reeditado em 11/09/2006
Código do texto: T234479