O LIVRO DE LILI

Achei muito interessante o texto da mato-grossense – do – sul, Vasques, que relatou seus primeiros contatos com as letras visualizando palavras em latas de biscoitos, de banha e de doces. Esta crônica me fez lembrar a minha infância, mas precisamente meus quatro a cinco aninhos, tempo em que ainda não era alfabetizada e gravei a palavra “Martini”.

Naquela época as crianças só ingressavam na escola entre cinco e seis anos no Jardim da Infância, apenas para aprender escovar os dentes, lavar as mãos antes das refeições e interagir com coleguinhas. Era somente a partir dos seis anos, no primeiro “Ano A”, que começavam a conhecer as letras.

Portanto, identificar a palavra “Martini” em revistas, muros e em qualquer lugar que se encontrasse, era coisa de menina prodígio. Vou explicar porque memorizei tal palavra. Morávamos perto de uma tipografia. Ainda hoje ela existe, é responsável pela edição do jornal “Norte do Piauí”. Entre seus funcionários destaco o senhor que fazia mandados sempre vestido com uma camiseta de propaganda da bebida “Martini”. Ele passava mil vezes em nossa porta. As letras eram chamativas, coloridas que me fizeram gravar a palavra, escreve-la e lê-la em qualquer lugar que se encontrasse. Não me pergunte se o dito senhor tinha mais de uma camisa, não vou saber responder. Mas, posso afirmar que ela estava sempre suja e amarrotada.

Pois bem, continuando a história de minha alfabetização tenho a dizer que foi aos seis aninhos que ingressei para a escola e nesse colégio de freiras fiquei até concluir o segundo grau. Não tive cartilha. Aquela que tem alfabeto, vogais e consoantes. Não aprendi formar sílabas. Faço até nesse momento um apelo aos pedagogos ou alguém “expert” no assunto que me explica o método da minha alfabetização. Meu primeiro livro (não tive cartilha) chamava-se “O Livro de Lili”. A primeira lição, permita-se transcreve-la, era a seguinte:

“ Lili, olhem para mim

Eu me chamo de Lili

Eu comi muito doce

Vocês gostam de doce?

Eu gosto tanto de doce.”

Esta lição era lida pelo professor com nosso acompanhamento inúmeras vezes. E se repetia no livro por cinco vezes, apresentadas de várias formas para que a gente pudesse identificar todas as letras contida no texto em suas mais diversas modalidades: maiúscula, minúscula, de imprensa, manual etc.

A segunda lição se chamava “A Cozinheira”. E relatava que a cozinheira era Lili que sabia fazer doce de abacaxi. A terceira lição tratava de uma patinha chamada “Tetéia” que acompanhava Lili por toda casa. Aonde Lili vai Tetéia vai atrás. Todas as lições se repetiam.

Na verdade o relato de toda essa história é para matar uma curiosidade. Será que alguns de meus leitores foram alfabetizados com este método? Alguém conheceu " O Livro de Lili”? É possível que a Gráfica que editou este livro ainda exista, assim como ainda existe a tipografia que empregava o homem da camisa “Martini”.

Fica aqui meu apelo. Quero resgatar "O Livro de Lili”. Tenho dúvidas se este método de alfabetização logrou êxito, porque parece que não é muito utilizado principalmente no meu meio. Comigo deu certo. Não conheço ninguém que tenha aprendido a ler e escrever da forma que eu aprendi. Espero que através da internet que tem ampla divulgação eu tenha sucesso na minha busca. Agradeço se alguém me retornar e ficarei muito feliz se encontrar alguém que tenha conhecido "O Livro de Lili”.

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 28/06/2010
Reeditado em 29/04/2020
Código do texto: T2345739
Classificação de conteúdo: seguro