Você conhece uma mulher?

As mulheres sabem que dentro delas moram muitas outras figuras femininas. Algumas poderosas, outras frágeis, algumas velhas, outras bem jovens. Todas adoram falar.

Todas as mulheres conhecem a dor e nenhuma é estranha ao sofrimento.

Nós mulheres, um dia ou muitos, nos sentimos alheias a nós mesmas. E nos perdemos num mar de irritação, exaustas mergulhamos num lexotan, em copos de vinho numa banheira escaldante ou no mais puro desespero.Algumas sucumbiram, só algumas. Como resultado, carregamos no peito essa perda e reconhecemos com reverência o poder destes abismos.

Toda a mulher, mesmo as muito jovens, sabem que ser mulher é um desafio. E no íntimo desconfiam que vão passar um bocado de tempo provando coisas ao mundo. Nascer mulher, em boa parte do planeta, ainda é afirmar-se acima do destino biológico.

Todas as mulheres pensam que sabem amar. Mas o amor insiste em rir de nós. E desafia nossas desajeitadas tentativas de dominá-lo ou compreende-lo. O amor parece um gato que só para o nosso colo quando já nos cansamos de chamar. Mas que ninguém se engane, mal a gente acostuma com aquele calor macio e peludo e ele pula e volta para a vida.

Todas as mulheres tem medo. Medo do primeiro beijo, do primeiro encontro, do primeiro emprego, de casar, medo de não casar, medo do parto, da traição, medo de não conseguir, medo de envelhecer, medo de dizer sim. A cada instante, nossos medos podem nos fazer trancar os dentes, afinar o olhar e ousar no salto. Ou podemos nos recolher emburradas e encolhidas dentro de uma caixa de sapatos, onde ficamos olhando o mundo por um buraquinho.

Todas nós temos um sonho. Todas nós temos uma sombra. Negra e densa. E aquelas de nós que não ousaram encarar seus sonhos e seus caminhos, são fáceis de reconhecer: parecem árvores ressequidas e seus ramos balançam sem alegria. Quem se alimenta dos frutos murchos dessa árvore experimenta seu sabor ressentido e intolerante. Eventualmente a tempestade racha ao meio tronco tão seco. A mulher é antes de tudo uma agricultora de sonhos.

Todas nós sentimos uma vez ou outra uma vontade de parar de bater as asas na vidraça e aquietar a alma, é hora de construir um templo para acolher nosso ser feminino. Não se condene, não se preocupe, deixe fluir, fique feliz.

Rejane Savegnago
Enviado por Rejane Savegnago em 30/06/2010
Código do texto: T2350980