Copa do Mundo - Diário de um torcedor (XIII) - Brasil x Holanda, "sob um leve desespero..."

Copa do Mundo - Diário de um torcedor (XIII) - Brasil x Holanda, "sob um leve desespero..."

Vou abrir esta crônica com dois versos que são o refrão de uma música da velha (e boa) banda Capital Inicial:

"...Sob um leve desespero

Que me leva, que me leva daqui..."

A essa altura do campeonato, um leve desespero seria normal, à vista da situação envolvida nas partidas de quartas de final: ganhar ou cair fora.

O caso é que, do lado da Holanda, a despeito da discrição do técnico e dos jogadores da seleção laranja, Johann Cruyff, craque que fez parte da lendária seleção holandesa que desclassificou o Brasil na Copa do mundo de 1974, veio a público para dizer que a seleção do Brasil é do tipo comunzinha e, que não merece que se pague ingresso para assistí-la.

O Sr. Cruyff, pode até tentar demonstrar má vontade e desdém com a nossa seleção. Mas, tais declarações sugerem um estado latente de leve desespero - talvez aquilo que venha passando pelas cabeças e mentes holandesas...

Ao que me consta, da equipe que já foi "laranja mecânica", só sobrou a laranja. E, desculpem mais um trocadilho vagabundo, ela corre o risco de virar suco, diante da equipe brasileira, pois, a despeito da ausência de Elano e, mais algum jogador, a coisa não vai ser fácil. Pague o ingresso, Cruyff, porque valerá a pena. E ser comedido nos comentários talvez não seja má idéia...

Falando no jogo, a imprensa especializada já veio com aquele negócio de que a equipe holandesa está fazendo uma boa campanha, é perigosa no ataque, enfrenta bem a disputa pelo domínio territorial do campo de ataque, consegue lidar com revezes e sabe impor seu jogo, etc, etc.

Bem, em todos estes quesitos (e, também no setor de defesa), agora estamos bem servidos. E os desfalques não servem de desculpas, pois os holandeses tem problemas parecidos.

O que eu tenho a dizer, então, como torcerdor é apenas isto: "Pra cima dos laranjas, Brasiilllllllll! Vamos fazer uma laranjada dos caras!..."

Aliás, o grande destaque da Holanda nesta copa, foram as loiras da torcida. O resto foi futebol mediano e algum momento de inspiração.

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Ontem, foi o primeiro dia sem jogos da Copa do Mundo. Foi estranho, depois de ter me acostumado à rotina gostosa e incesante de procurar notícias e jogos, da África do Sul.

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Enquanto escrevia, recebi um e-mail cuja mensagem me assustou. Vejam porque:

"O Brasil ganhou a copa do mundo em 1994, antes disso, sua última conquista do título foi em 1970. Se você somar 1970 + 1994 = 3964

A Argentina ganhou sua última copa do mundo em 1986, antes que isso só em 1978. Somando 1978 + 1986 = 3964

Já a Alemanha ganhou a sua última copa em 1990. Antes disso foi em 1974. Somando 1990 + 1974 = 3964

Seguindo esta lógica, poderia se ter adivinhado o ganhador da copa o mundo de 2002, pois este teria que ter sido o vencedor da copa de 1962!

Conferindo: 3964 -2002 = 1962. E o ganhador da copa em 1962 foi o Brasil!

Realmente, parece funcionar... E assim, quem venceria a copa do mundo de 2010 na África do Sul? Resposta: 3964 - 2010 = 1954

E quem ganhou em 1954? Alemanha!"

Trata-se de "matemágica", evidentemente, mas ó: toc! toc! toc! na madeira, que brincadeira tem hora!

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Em 02.07.2010 - Às 15h:35min. Quem diria, hein? Havia também um leve e insuspeito desespero rondando a concentração do Brasil!

Em 03.07.2010 - Às 18h:58 min. Depois da lamentável derrotada da seleção brasileira, não achava ânimo para voltar e concluir esta página - mas, o leitor há de convir que, não é para menos. No dia do jogo, dispensei a cerveja e pensava na laranjada. O problema é que a laranjada tinha gosto de limão.

Depois do resultado da partida ficou claro que o jogo da Holanda era um xadrêz que ia muito além dos gramados. O técnico conhecia todas as qualidades da seleção canarinho, mas certamente, foi atrás de vídeos dos jogos de classificação da seleção para a Copa do Mundo e, percebeu, que sob certas condições, a seleção brasileira, que costuma impor seu domínio em campo, balança ou sai de controle. É o caso das provocações e pressão emocial (como ocorre, por exemplo, nos jogos com a seleção argentina), e é aí, certamente, que entrou o Sr. Cruiff, com a estranheza de suas provocações gratuítas, numa jogada que terminou no gramado, onde os jogadores da seleção holandesa fizeram de tudo para tirar nossos craques do sério.

E Tudo deu certo para os laranjas. Entretanto...

...O leve desespero de que eu falava também andava rondando a concentração brasileira, que se tentava fechar à influência do ambiente exterior. E a porta de entrada das más influências era justamente o nosso técnico, no seu comportamento ciclotímico com a imprensa (cuja importância no evento era determinado pelo seu dever de informar e direito de opinar, nada mais). Mais cedo ou mais tarde, teremos informações, nesse sentido...

Na hora da partida, o comportamento desequilibrado de Dunga à beira do gramado, que tinha um semblante de preocupado no primeiro tempo e, desesperado, após o empate da partida, no segundo tempo - chegou ao ponto de ter sido flagrado pelas câmeras de televisão estapeando o mastro do banco de reservas e, esmurrando o chão, pelas câmeras de televisão, o que deve ter influenciado o comportamento os jogadores em campo, que já tinham uma tarefa muito difícil pela frente.

De qualquer forma, como dizia a crônica especializada, a seleção holandesa demonstrou toda a sua competência em campo, sabendo lidar com o adversário e impor-lhe o ataque previsível, porém eficiente, empatando e virando o jogo, depois de um belíssimo gol que resultou de uma enfiada de bola para Robinho - e isto, depois de ver a seleção adversária dominar o campo, no primeiro tempo.

Neste jogo, enfim, a defesa do Brasil foi exigida e, então, Júlio César, o melhor goleiro do mundo, falhou e, e viu sua meta devassada. A partir daquele momento, a seleção brasileira parecia um grupo de estranhos e desequilibrados em campo. Tanto que, Felipe Melo cometeu uma falta covarde e vergonhosa, motivo que determinou a sua expulsão de campo, o que tirou as esperanças de reversão do resultado do jogo.

Já no final da partida, o técnico brasileiro fez uma substituição cujo equívoco demonstra suas limitações quanto às estratégias de jogo, quando trocou o atacante (e artilheiro brasileiro na Copa) Luiz Fabiano por Neimar.

E assim, a seleção encerrou sua esquecível campanha na Copa do Mundo da África do Sul, sem que se possa acrescentar mais nada, há não ser o fato de que o Presidente da CBF, de uma forma muito oportunista, resolveu jogar para a torcida numa hora muito imprópria, anunciando a demissão do técnico inexperiente que a própria entidade havia decidido contratar enquanto a seleção voava de volta para o Brasil.

O que se espera, agora, é que resolvam a ceder às evidências e contratar um técnico à altura do cargo. E eu, como torcedor, não vejo ninguém melhor do que Luiz Felipe Escolari - o Felipão. Mas, pelo que conheço dessa gente da CBF, talvez esta hipótese nem esteja sendo levada em consideração.

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Nas oitavas de final, à exceção da seleção hondurenha, todas as seleções americanas se classificaram. Depois das quartas de final, só resta a seleção do Uruguai classificada - decepção total. E ela vai enfrentar a seleção da Espanha, nas semi-finais. Parada dificílima, mas não, impossível.

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Eu acreditava muito na capacidade da seleção argentina. Mal grado sua falta de esquema tático, tinha um dínamo motivador, Maradona (o segundo ene não faz mais sentido...) e, excelentes talentos individuais.

No jogo com a seleção alemã, porém, Messi, que manteve-se no grupo dos "discretos" do começo ao fim da Copa do Mundo, era marcado onde fosse no campo de ataque. O seu oponente Schweinteiger, porém, estava muito à vontade, para armar o ataque alemão, que contava com a incrível atuação de Kloser, veterano (e naturalizado alemão) que se encontrava em sua terceira copa do mundo.

Foi justamente a ausência de um esquema tático estabelecido e eficiente, aliado à marcação eficiente do ataque argentino que deu à jovem e brilhante seleção alemã a oportunidade de golear a seleção adversária.

Está certo que, com a derrota de sua equipe, os argentinos estão livres de ver Maradona pelado e, ainda mais, de assistir a um dirigente da AFA ser processado por algum jogador por, no mínimo, assédio sexual. Mas, a partida da Argentina no dia seguinte à seleção brasileira, deixou o espetáculo da copa, sem dois de seus maiores atrativos.

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A esta altura da Copa do Mundo, Mick Jaegger se consagra como o maior pé frio de todos os tempos. Nas três partidas que compareceu, as três seleções para quem torcia foi desclassificada.

No Brasil, o maior pé frio da nação é o Presidente da República, que, não satisfeito com o destino do Corínthians, no campeonato paulista passado, exigiu que a seleção brasileira fosse a Brasília antes de partir para a África do Sul, sob os protestos de Dunga.

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Na falta de opções, boa sorte para a "celeste". Espero que ela passe pela Espanha e represente os sul-americanos, na final da Copa sul-africana...