Vuvuzelas Silentes

O silêncio das vuvuzelas

Puxa, estava eu por vezes reclamando do barulho intempestivo de alguma vuvuzela, ora a me acordar, ora a me atrapalhar o melhor comentário da TV, durante uma conversa, enfim, de toda forma que aquilo poderia incomodar.

Era nos momentos de jogos ainda mais ensurdecedor. Um ou outro, durante a noite, resolvia perturbar a tranquilidade, mas, assim que acordam os torcedores, o som vai se multiplicando, e de forma exponencial vão também demonstrando o nervosismo dos torcedores diante do momento do embate futebolístico. Bom, a vuvuzela, ah! a vuvuzela, esse foi o instrumento mais tocado na Copa do Mundo de 2.010.

Esse som manifestava nitidamente o quanto esse esporte significa para os povos do mundo, Quanto envolvimento esse torneio mundial causa a uma infinidade de pessoas. Uns depois choram, outros manifestam intensamente a alegria por uma conquista de seu país, mexe com o mais recôndito sentimento de patriotismo.

Um campeonato mundial, uma olimpíada, sempre foi retratado no meio social em todos os tempos. É sinônimo também de uma batalha travada, onde sempre haverá um perdedor. Poderia também ser uma analogia às guerras entre países nos tempos medievais, onde a honra e o poder do reino estavam submetidos às lanças, espadas, elmos, armaduras e a perícia dos cavaleiros do rei. Quantas decisões foram tomadas, ou mesmo disputas resolvidas, com o uso desses torneios?

Hoje, não muito diferente, a disputa também retrata e demonstra o orgulho de um povo, que até mesmo em momentos de agrura, de submissão às forças do poder ditatorial, faz com que o povo se esqueça de sua pouca liberdade. Se ainda assim, esteja ele mais livre para pensar, lhe foram ceifados o saber, e mal sabe que nas sombras do congresso, estão aprovando as leis que buscam muitas vezes manter o “status quo” de um povo sofrido e maltratado, que mal sabe fazer uma escolha pois o grau de comparação de feitos de seus governos por vezes são pautados nas pobres retóricas de governantes despreparados intelectualmente.

Pois é, até os possíveis ruídos dessas indesejadas decisões são abafados pelos gritos das vuvuzelas.

Coincidência ou não, todo ano de Copa do Mundo, temos importantes eleições.

Enquanto o povo se embriaga de futebol, os homens da política não perdem tempo...

Os resultados na arena, sempre foram também misturados com as oportunidades dos candidatos. Os do poder, em caso de vitória, sempre irão se aproveitar para aparecer diante dos seus eleitores, ora em carros de bombeiros, ora em entrevistas, ora nos palcos e palanques. Assim, também ajudam a manter a motivação do povo, e aproveitarem-se dessas simples manifestações de orgulho, para incutir na memória do incauto eleitor a imagem do político interesseiro, que por vezes parece até que o próprio estava em campo jogando contra os adversários. Nada estranho que poucos meses antes das eleições, muita gente esteja indecisa. Poucos sabem que, por exemplo, este ano, temos eleições para Senadores, já que este pleito é de destaque e caráter majoritário, onde os principais destaques serão os governadores e presidentes. Assim, não se destacam os deputados e senadores e estes se elegem à sombra das disputas maiores. Não se fala de debates entre senadores, não é mesmo?

Pois é, em uma disputa sempre tem que ter um vencedor e um vencido!

Nem por isso, o vencido deverá baixar a cabeça, pois, se de um lado não angariou mais um troféu, trouxe sim momentos de muita alegria também. Lutaram muito dentro de suas possibilidades e estratégias. Apenas que do outro lado, também a vontade é a mesma, e, por vezes a derrota não vem por falta de brilhantismo ou de habilidade ou de uma boa estratégia, vem também com um pouco de fortuna.

Ah! A sorte. Essa sim não escolhe lado e brinca como um espírito que cobre o estádio, fazendo suas traquinagens.

Mas, por outro lado, há que se pensar no lado positivo dessas decepções. Nos faz colocar os pés no chão novamente. Acordamos de momentos de transe.

Faz com que voltemos nossas atenções ao nosso cotidiano, ao trabalho, à árdua luta de conquistar o pão nosso de cada dia. Certamente também esses momentos fizeram com que a irmandade se reforçasse, que as desavenças tenham sido postas de lado, que as comemorações tivessem sido livres da maldade, e o povo tivesse vivido irmanado e cheio do patriotismo, que forma a unidade de uma nação.

Ah! Mas a vuvuzela silenciou muito cedo, quando nossas esperanças de vitória começaram a se animar, quando nossa confiança aumentou em relação às primeiras apresentações dos atletas, que não convenciam. Mas as esperanças aumentavam também, não porque nosso esquadrão era uma maravilha, mas porque, principalmente, os adversários também mostravam atletas e conjunto bastante fracos e desorganizados.

Menosprezamos o adversário, talvez, o que é fatal em uma contenda. Mas o resultado está aí, como um pesadelo, e, ao acordar hoje, sinto nitidamente que é a pura realidade, não me acordaram com o som estridente da vuvuzela. Mas, certamente, outros povos felizes estão ouvindo-a, pois continuam na contenda.

Assim, que eles possam continuar na esperança de dar mais orgulho aos seus povos, que possam seguir disputando, e, gradativamente ir também silenciando, até que só um continue soprando-a estridentemente, feliz, esquecendo-se por momentos das vicissitudes e das tristezas.

Ah! Quanta falta senti hoje, do barulho da vuvuzela!

Puxa que silêncio nesta manhã... o silêncio da vuvuzela, é muito ensurdecedor para o meu coração!

Abraços a toda nação brasileira!

Marco Antonio Pereira

03 de Julho de 2.010.

MARCO ANTONIO PEREIRA
Enviado por MARCO ANTONIO PEREIRA em 03/07/2010
Reeditado em 03/07/2010
Código do texto: T2355380
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