FESTA DE ARROMBA

Aquela turma de aposentados, desocupados, e outros ‘ados’ - não publicáveis -, que fica jogando damas, porrinha e xadrez, enquanto se atualizam nas fofocas da cidade, ali próximo à rampa de entrada do Banco do Brasil, garante que vai ser uma verdadeira Festa de Arromba. Digna dos tempos da Jovem Guarda! Afinal, não é todo dia que uma empresa comemora vinte e cinco anos! Salve a Banca de Frutas do Levy! Parece que foi ontem... Quando os bancários chegaram, naturalmente se espreguiçando por pegar no batente em plena manhã de segunda-feira, lá estava estacionado na frente da agência o carrinho azul e branco. Cruzeirense! Mas, peraí, seu proprietário não seria um apaixonado atleticano e as cores oficiais do Galo - o glorioso Clube Atlético Mineiro -, preto e banco? (Ora, esta minha fixação por detalhes!)... já devidamente sortido de frutas conservadas em gelo moído: laranja, melancia, abacaxi, mexerica...

Logo um gozador apelidou a carrocinha de “Carrefui”. A curiosidade dos bancários era enorme e as especulações maiores ainda. Àquela época, não havia a guarita da Polícia Militar, defronte o prédio do banco - que semana sim e outra também recebia ameaças anônimas de assalto, por telefone. Assim, o primeiro boato foi que o Levy era um agente secreto, tendo por missão identificar elementos em atitudes suspeitas, anotar placas dos veículos de outras cidades, estacionados perto; tudo isto rigorosamente codificado numa cadernetinha, que ele escondia no bolso da camisa. Outros preferiam acreditar que o novo e gentil vizinho fosse um ‘olheiro’ do gerente, com a tartefa de vigiar os funcionários que - durante o expediente - davam uma escapulidinha até a Lanchonete Xuá, sorveteria Bola de Neve, Barbearia do Pretinho para uma ponta de prosa. Ambas as versões eram reforçadas pelo esquivo hábito das anotações, que o 007 bom-despachense fazia na famigerada caderneta. Só bem mais tarde descobriu-se que ali ele apenas contabilizava os inevitáveis fiados, comuns a todo ramo de negócio.

Como toda atividade comercial é sempre desgastante, demorou pouco para o empresário arrumar de sócio ninguém menos que o Zé Toniquinho - decano dos gays da cidade e mestre-cuca prendado! Além de frutas fresquinhas (sem trocadilho), o “Carrefui” passou a oferecer os mais saborosos doces e confeitos de Bom Despacho. Todo mundo aqui conhece o Zé, né? Com aquele coração maior do que a Igreja Matriz, em vez de vender ele dava... Sobretudo para uns garotões sarados, de uma academia vizinha, desfalcando o estoque. E o Levy, contrariado. Também este, quando brigava com a namorada, uma morenona reforçada, cor de chocolate queimado, lá das bandas do Quenta-sol; ou quando o Galo perdia um jogo, de olhos vermelhos que nem tomate maduro, afogando as mágoas numas branquinhas avultadas, não se lembrava de anotar as penduras. E o Toniquinho, chateado! De formas tais que - amigavelmente - a sociedade chegou ao fim.

Reza a crônica bom-despachense que desde aquela já distante manhã de segunda-feira - há vinte e cinco anos -, entre a Banca do Levy e o Banco do Brasil celebrou-se um contrato de cláusula pétrea: O Banco não vende frutas, nem a Banca empresta dinheiro! Os tumbas e sapos que ficam ao redor do “Carrefui”, azucrinando a vida de seu proprietário, dizem que por medo de perder a franquia ele não mete a mão no bolso nem para fazer troco! Aí, só resta uma perguntinha, tão idiota quanto este cronista: - Quem vai financiar a tal Festa de Arromba?

dilermando cardoso
Enviado por dilermando cardoso em 04/07/2010
Reeditado em 04/07/2010
Código do texto: T2356934