EITA, MAS EU JÁ VI ARROZ!!!

(Uma homenagem ao meu saudoso pai Fernando, in memorian)

Lêda Torre

Quando meu pai era um garoto de seus nove a dez anos, segundo ele nos contou um dia, era comum seus pais, armazenar num grande salão, chamado “paiol” cheio de arroz, chegando às vezes, até o teto da casa.

E meu pai, um moleque muito curioso, ficava a observar e acompanhar seu pai na colheita que eles chamavam de “panha” do arroz, no percurso da roça até sua casa e vice-versa. Caladinho, acompanhava aquela tarefa rotineira, mas um dia o garoto Fernando, meu pai, se superou. Foi assim: meu avô Mariano, trouxe muitas sacas de arroz carregadas por burros de cargas, e num certo dia, encarregou o garoto de ficar vigiando aquela descida das sacas para o “paiol”, de preferência caladinho, apenas pra vigiar os ajudantes se estavam fazendo a coisa certa ou não.

Pois bem, à medida que as sacas de arroz iam chegando, meu pai ali assistindo a tudo, começou a dizer bem baixinho:

- eita...mas...eu...já vi arroz!!!... (b-a-i-x-i-n-h-o)....

Mas, à medida que ia aumentando o volume de arroz no paiol, o menino ia aumentando o grito de admiração, assim:

-eita..eita..eita...mas eu já VI ARROOOOZZZZ!!!!

E o arroz ia aumentando, até acabar, e o guri repetia mais alto:

- EIIIIIIIIIIIIIIITAAAAAAAAAAAAA...mas EU JÀ VIIIIIIIII ARROOOOOOZ!!!....

Até que meu vô Mariano, se emputeceu e ameaçou-o, peraí, filho duma égua, que tu vai ver arroz já, já lá dentro de casa de joelho, viu??

Meu pai, mais do que amedrontado, sumiu!!!! E antes que seu pai cumprisse a promessa, entrou de mato a dentro, pelos fundos do quintal da casa, por dentro de um mato típico daquela região, de nome “fedegoso”, e ali dava tanta casa de formiga, que o menino amedrontado, achou uma sombrinha por ali, se refugiou ao seu modo, perto do formigueiro, nem se apercebeu das formigas lhe mordendo... Só com medo de levar uma surra, nem ligou se alguém em casa estaria se preocupando com ele ou não, azar deles...pois o propósito dele voltar para casa , só quando o pai desistisse de cumprir a tal ameaça.

Passou-se o dia inteiro, todos já preocupados, e sem saber nem por onde procurá-lo, bem de tardinha, papai apareceu todo vermelho, “empolado”, cada “catombo”, de dá dó... tadinho...todo arranhado daqueles cipós de fedegoso, empolado e mordido de formigas....vermelhinho que nem um pimentão, coitadinho...todo desconfiado, meio desligado e foi logo entrando pelos fundos da cozinha onde sua mãe, a nossa avó Júlia, muito doce, ficou feliz e indagou ao guri: - “ meu filho, por onde você andou o dia todo? Comeu alguma coisa?? está com fome meu menino??” essas coisas de mãe, e mandou que ele fosse com ela lá no quintal perto da cacimba, onde tinha água e foi dar banho no pobrezito.

Lá pelas tantas da noitinha, meu avô Mariano, vendo o estado deplorável do menino Fernando, olhou enternecido, e disse: - meu filho, eu não ia lhe bater, ia só conversar com você...não era preciso fugir assim, deixando aqui a gente muito preocupada não...bastava tão somente você parar de gritar que “ já viu arroz...aquilo estava irritando, você entende”? aí, foi que já banhadinho, a sua mãe havia passado um remédio em sua pele, dera comida e cuidara de seu filhote, finalmente o coitadinho descansou e foi dormir....para depois aprontar mais...sonso todo.....menino é assim mesmo!!

_______São Luis-MA, 08/07/2010_________

Lêda Torre
Enviado por Lêda Torre em 09/07/2010
Reeditado em 03/06/2015
Código do texto: T2366981
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