O VELHO CONTADOR DE HISTÓRIAS

Lêda Torre

A velha tradição universal de contar histórias, nada mais é do que uma arte e eu diria que, também é um dom. Pois, desde criança tinha uma pessoa na nossa família, que era exímio contador de histórias. O velho portuga, meu avô SINHORZÃO. E como ele as contava muito bem, eram lindas por sinal! Mesmo analfabeto que era, tinha além da habilidade e o dom, a maneira ordeira de contar com maestria, com melodia, com coerência e coesão, e ainda imitava as vozes, a entonação, o choro, a alegria, a tristeza, o medo, e tantas emoções e sentimentos que hoje em dia, para aprender contar histórias de forma atraente para o público infantil, normalmente tem-se recorrido à inúmeras maneiras de fazer essa tarefa que não é nada fácil! Faz-se cursos ou até mesmo faculdades de Artes, cursos para aperfeiçoar a oralidade, a expressão corporal e facial, essas coisas....dentre tantas outras....

Entretanto, meu avô não precisava de nada disso. Estes artifícios nunca fizeram falta a ele. Além das histórias fantásticas clássicas, ele tinha um acervo, ou melhor, um repertório pra ninguém botar defeito. Como nosso artista era um grande caçador, aí é que ele tinha histórias mesmo. Contava as de animais, do “capelobo” que hoje o conheço por lobisomem. Era tão real como ele contava as histórias de terror, que normalmente como era à noite, e perto de irmos dormir, quem foi que disse que nenhum de nós crianças ouvintes, queríamos ir pra cama? O medo, era tão grande, que qualquer sombra ou qualquer movimento ou vulto ali naquelas pairagens, era motivo de nos assustarmos... e o nosso portuga caía na risada, mesmo que depois nos desse colo.

O impulso de contar histórias deve ter nascido no homem, no momento em que ele sentiu necessidade de comunicar aos outros alguma experiência sua, que poderia ter significação para todos. Não há povo no nosso planeta que não se orgulhe de suas histórias, tradições e lendas, porque elas são a expressão de sua cultura e devem ser preservadas.

Ele morava fora da minha cidade, lá nas suas terras, o local se chamava Tapuia ainda hoje, tem esse nome. Lugar lindo onde o rio Itapecuru passa ali,e nos traz muitas lembranças de todas as férias escolares, nós já tínhamos destinos certos, para casa do vovô, que também chamávamos até então, de Beira do Rio. Quando ele vinha pra nossa casa, trazia carne seca de sol, peixe seco, até jacaré seco ao sol eu já comi dessas vezes que nosso avô sempre trazia. Nesse embalo já comi até carne de macaco, de veado, de tatu, de paca, e tantas outras caças que o velho mestre caçava. Só sei que não há mais um avô assim...

E a alegria era geral, lá vem o vovô!! o nosso bom contador de histórias...hoje ele deve estar lá no céu contando histórias para as meninas estrelas, para os anjinhos...

____São Luis – MA., 09/07/2010__________

Lêda Torre
Enviado por Lêda Torre em 11/07/2010
Reeditado em 03/06/2015
Código do texto: T2370659
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