MEU VELHO IPÊ

Depois de muitos anos, de volta à terra natal, fiz questão de verificar se ele continuava lá. Sim, sobrevivera à ação do tempo. Majestoso, exibia a beleza sem constrangimento, como convém ao que tem, naturalmente, consciência de que a formosura lhe é peculiar. Ao mesmo tempo, a simplicidade do que reconhece que existe um poder superior a ele, que lhe permite perpetuar através de uma semente voadora que o faz multiplicar, generosamente.

Sempre no mês de agosto, quando nós, ginasianos do Colégio Estadual nos anos 70 em Bom Sucesso, exercitávamos na quadra do colégio, nas aulas de Educação Física, deparávamos com aquela bonita visão, contrastando com a sequidão do mato, uma árvore de ipê, em sua total exuberância. Não se enxergavam folhas e galhos, mas uma explosão dourada sem par. Era o único destaque naquele morro, entre tanto cinza e sequidão. Dádiva do céu aos nossos olhos! Pela sua generosidade, não exige que o solo seja fértil para oferecer esse espetáculo visual sem precedentes!

Fora dessa época, nada havia que chamasse atenção naquelas paragens, mas valia a pena esperar, como se um eco fosse à frente avisando de que essa paisagem mudaria com o passar do tempo e que um Deus engalanado iria permitir e permitia, em todos os anos, aquela aparição de tirar o fôlego. Naquele tempo, já era uma árvore formada, braços abertos se oferecendo para todos os lados, ali, sozinho, mas suficiente.

Naquele tempo, desconhecia que havia outras qualidades dessa planta, que variavam de cores, tamanho e espécie como o rosa, branco, roxo, verde etc., mas, para mim, aquela árvore frondosa e formosa era tudo com sua roupagem amarelo-forte.

Hoje, quando viajo pelas estradas, nessa mesma época, me chama enormemente a atenção a presença dessas árvores, em vários lugares, sobressaindo entre outras, pela beleza de sua florada e me lembro do ipê daquele tempo, que sobreviveu . Para mim, é sinônimo de um tempo de sonhos e ilusões.

Infelizmente, nunca comentei sobre a minha experiência com os contemporâneos, nem mesmo sei se se davam conta daquela exibição gratuita , ou por outra, se aquela visão representava o mesmo para eles o que para mim ... Mas valeu a pena.

Quando chegar novamente o tempo da flora, mesmo que esteja longe, terei a certeza de que outros estão tendo a oportunidade de contemplar o mesmo quadro vivo e, pelos olhos deles me manterei em comunhão, ao contemplar a obra de Deus e celebrar por mais um ano, a vida!