Frágeis e selvagens

Ele matou. Sim, matou seu pior inimigo. Chegou e atirou, à queima roupa. Foi lá e pá-pá-pá! Finalizou. Atirou e correu. Fugiu. À partir daquele dia estava jurado. Nova missão: não morrer.

Carro insufilmado, nunca sozinho. Um dia no banco da frente, outro no banco de trás. Dirigir? Nunca.

Colete à prova de balas. No calor, no frio, no supermercado, no açougue. Dez telefones, um ano e meio assim, esperto, tenso, esperando o pior.

Olheiros no bairro. Quem entra tem que abaixar o farol, e também abaixar a bola.

Informações, instruções para perguntar quem é e o que quer.

Mas o tempo passa, a tensão baixa, a guarda cai.

Enquanto o pássaro pula de galho em galho, a cobra se move lentamente, um centímetro por vez, fica fazendo parte da paisagem, num mimetismo silencioso.

Um jogo de xadrez de vida ou morte, sujeito a um xeque-mate.

Um checando para matar, outro checando para não morrer.

E aquele dia foi todo ensolarado. O asfalto escuro absorveu todo o calor do dia e o mormaço chegava a sufocar na boca daquela noite estrelada. Dentro de casa estava abafado. O filho ficou no sofá enquanto o pai saiu um pouquinho para tomar um ar. O revólver foi esquecido em cima da T.V, o colete pendurado.

Pisou na calçada, acendeu o cigarro...a moto chegou do nada, com dois ocupantes. O garupa sacou e pá-pá-pá-pá, desceu, conferiu o corpo caído e pá-pá-pá, essas pelo ódio, aquelas por vingança.

Os peritos recolhem as cápsulas que foram ejetadas. Pegam com uma pinça e colocam num saquinho plástico.

Os investigadores e os PM´s observam e comentam. Uns chamam de execução, outros preferem chamar de limpeza.

Que se matem, esses desgraçados. Pelo menos poupam um pouco de nosso trabalho, festejam.

Isolar a área e fazer guarda para corpos é mais fácil que pular muros atrás de fugitivos, ainda mais com aquelas panças.

Sua majestade caiu. Mas o principezinho está crescendo, e um dia chegará ao trono para dar continuidade à saga de seu pai. Enquanto isso o primeiro-ministro assume.

E a lei de talião vigora independentemente de sanção, com livre aplicação no vasto território do reino da perdição.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 15/07/2010
Reeditado em 15/07/2010
Código do texto: T2378799
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