Não atirem nos americanos

Há um bocado de gente por aí nutrindo um certo ranço contra tudo o que vem dos Estados Unidos. Um brasileiro que prefira, ou simplesmente aprecie, a cultura ou a arte estadunidense, é logo chamado - em tom pejorativo - de “colonizado”. E ainda é acusado de não valorizar o produto nacional. De minha parte, não apenas não compartilho com isso, como sou um entusiasta da cultura yankee.

Afinal, que culpa tenho se foi em solo norte-americano que nasceram e se desenvolveram o blues, depois o jazz e depois o rock, por exemplo? Na literatura, foi lá que os beatniks – Jack Kerouac, principalmente – criaram um jeito novo de escrever e narrar, que é o que mais me agrada entre tudo o que já li até hoje. Nem falemos do cinema, porque este dispensa qualquer defesa.

Os americanos fazem o melhor jornalismo desde os anos 40, pelo menos, e foram eles que inventaram o new journalism, jornalismo feito com elementos da literatura, que é grande barato da profissão. Não consigo achá-los culpados por isso. E, verdade seja dita, em sua origem o blues é muito mais africano do que norte-americano, o jazz é muito mais europeu, Kerouac é franco-canadense e muitos grandes cineastas hollywoodianos tampouco nasceram naquele país. Ou seja: não amo os EUA, mas muitas coisas que se criam lá.

Se fossemos tão colonizados assim, não teríamos o futebol como esporte preferido, por exemplo. Contrário a isso, é lá que este esporte cresce cada vez mais. O brasileiro não deixa de gostar do que é bem feito no Brasil - o cinema, o samba, o futebol – só por consumir também o que surge no hemisfério norte. O rock, o jornalismo e a literatura tupiniquim é que, talvez, não sejam tão bons assim.

Criticar os EUA, principalmente quanto às suas práticas políticas, sociais e econômicas, acho válido e necessário. Mas fechar os olhos para tudo o que eles conseguem criar em praticamente todas as áreas, é não gostar de pensar.

Andrei Andrade
Enviado por Andrei Andrade em 15/07/2010
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