Terapia sexual

Seu pseudônimo é Wanda. Nunca se envergonhou de seu trabalho mas prefere sigilo e resguarda seu verdadeiro nome. Psicóloga formada em prestigiada universidade, adota uma linha de trabalho nada ortodoxa - além de tratar a psique de seus pacientes, trata também o corpo. Descobriu uma forma revolucionária para curar qualquer tipo de indisposição, carência ou dificuldade de ordem sexual: terapia cognitiva comportamental e psicanálise aliada às técnicas de Shiatsu. Serve também uns comes e bebes, nada pesado, tudo natural e sem gordura. Ela aprendeu que as mãos humanas emanam energias vitais e, com a destreza de seus apertos e toques, mágicos dedos, faz relaxar os tendôes e músculos de uma estátua. Somando-se a isso o fato de ser uma mulher com formosos atributos físicos, rosto elegante e voz suave e aveludada, tem ao seu dispor verdadeiro arsenal terapêutico.

Fato curioso e até engraçado, ela mantém em seu consultório uma periquita de pelúcia. É objeto lúdico bastante útil aos pacientes masculinos, esses, em verdade, a grande maioria. Não precisamos recorrer a Freud para explicar a alegoria da periquita. Imaginar é livre. De forma inteligente e magistral, ela desperta nos homens a feminilidade latente deixando-os tocar, acariciar e afagar a sua periquita. Mas não de qualquer jeito, pede delicadeza e doçura, fazendo-os conter e trabalhar a sua natural robustez e força.

Mas nem todos os homens sentem-se à vontade diante de sua apetecível periquitinha. Alguns apresentam bloqueio causado por alguma experiência dolorosa cravada no sub-consciente. Para estes, aplica-lhes uma relaxante e revigorante sessão de Shiatsu em sua maca. Com óleos perfumados e música tântrica, os conduz a um paraíso que não sabiam existir. Corpo trabalhado, envolve então as suas mentes. Com ternura infinita, as palavras quase hipnóticas que saem de sua boca de lábios carnudos seduz os pacientes a tal ponto que, frequentemente, apaixonam-se.

Não raro são as propostas amorosas e indecorosas. Não cobra pouco por suas sessões e daí deduz-se que sua clientela provém de classe social abastada. Presentes, declarações e mil promessas de uma vida luxuosa e requintada não conseguem fazê-la desviar de sua ética e conduta. É terapêuta do sexo, profissional, nada além disso. Sua satisfação é a satisfação sexual de seus pacientes.

Aliás, orgulha-se muito de sua profissão. Ela sabe (agora sim recorrendo a Freud) que o sexo é prática fundamental, raíz larga e profunda que mantém viva e saudável a árvore da felicidade de qualquer pessoa, seja qual for a raça, cor, credo ou idade. Não, ela não apenas cura, seu trabalho é muito mais do que isso - ela é a verdadeira Afrodite, deusa da beleza e do amor, símbolo do poder feminino.

Julho de 2010