CUIDADO QUE SÃO NOVOS

Estavam a jogar sinuca num bar. Ele com o taco na mão direita e o olhar nos seios dela, inclinada a espera do jogo que viria. Sem desviar o olhar do decote que prenunciava um belo par de tetas, ele mira a bela e a bola, e acerta de jeito. Seus olhos se cruzam, e combinam algo para depois da partida. Ficam espertos, travessos nos olhares e nas tacadas. Sorriem um para o outro, enquanto o giz azul rabisca a ponta do taco de cada um. Disputam um jogo para além da bola oito. Um jogo de sedução se instala. Estampam jogadas mirabolantes de gestos, sorrisos, olhares. Burburinhos alhures, que se danem! E ela a cada vez que pode, mais se inclina para esnobar a sedução que prolifera do decote sinuoso. Na saída, se encontram para um cigarro e para outra partida, dessa vez para a casa dela. Por fim, lá chegam. Mais um vinho, quem sabe, meu bem. Que bom te conhecer, eu também, você é linda, você é um gato e tudo mais.

E beijos daqui e dali, vão dando chance a uma aproximação maior. Serão felizes para sempre, talvez. Ela faz que quer, e ele ousa tocá-la. Tenta chegar de mansinho, não quer assustar, quer ser carinhoso apenas. E as mãos dele avançam, tentando delicadeza. Mas são interrompidas por uma voz, que, num primeiro momento, ele supõe ser um convite, e avança ainda mais. Até que ouve o verdadeiro motivo do grito: cuidado que são novos! Ele não entende de início, olha de um lado para outro a procura de um abajur que poderia se quebrar, ou algo assim. Nada encontra. Devolve um olhar de interrogação e surpreende-se ao vê-la com os braços a proteger o que, para ele, era o mais atraente nela: os seios. Ela diz: silicone, recém colocados, me desculpe, mas, cuidado, são novos. Ele gagueja, perplexo, sem saber o que dizer. Simula atender ao celular: um imprevisto, desculpe-me, ele diz. E sai apressadamente, com a sensação de que estivera a ponto de amar uma boneca inflável. Inflável, mas falante, ele pensa, que pena...

Rocio Novaes
Enviado por Rocio Novaes em 16/07/2010
Código do texto: T2382068
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