Sem Moderação

Acho que se começa a desconfiar de que não somos imortais quando a morte passa raspando por nós. Afinal, fui ao enterro de três amigos nos últimos três anos. Um por ano, é marca capaz de assustar. Já me vejo dentro do caixão em alguns anos, com minha viúva me fazendo cafunés que não perceberei, pois estarei morto.

De repente, me dou conta. Todos os meus amigos mortos eram uns tremendos pinguços. Não que ficassem bêbados e fizessem besteiras, como bater na mulher ou faltar ao trabalho. Não, a sua grande proeza era beber e se manter, ou pelo menos dar a impressão de sobriedade. Alcoófilos sociais, diriam os doutos... Um de meus amigos falecidos, que a terra lhe seja leve, era também um galinha de marca, encarando qualquer fêmea que lhe aparecesse pela frente, ou por trás. Sugeri que tomasse cuidado, pois, sabe como é, nesse mundo moderno há muitas doenças sexuais, ao que ele rebateu: “ que nada, nós que bebemos não pegamos tais doenças, somos imunes...” Que bestalhão!

Bem, é triste constatar que o meu assunto, num momento sem assunto, como neste domingo sem graça é o álcool, e como ele se imiscui definitivamente em nossa sociedade, em que alegrias ou tristezas, ou falta de assunto são sempre regadas com muito álcool.

E que a derrota da seleção não teria graça sem as muitas latinha de cerveja que lhe são inerentes.

E que, neste domingo sem graça, nesse nosso Brasil em que Dilma empata com o Serra, tanto faz quem será o próximo presidente. Tenho certeza que não nos converteremos ao islamismo, ou seja o álcool não será proibido, nem as mulheres terão de esconder as suas belezas, mas eu por via das dúvidas já parei de beber, comemorarei as belezuras das mulheres com água mineral, sem qualquer moderação.