QUANDO EU ERA JOVEM ME IMAGINAVA UMA VOVÓ ASSIM...




Quando eu era jovem e me imaginava uma vovó, eu me via assim: sentada numa cadeira de balanço, de robe, xale nos ombros, óculos na ponta do nariz, usando dentadura, aparelho de surdez e com os pés enfiados nos chinelos felpudos e sobre as pernas uma manta quadriculada, ouvindo Schubert, Mozart, Wagner, Albinoni... e cercada de netos para os quais eu contaria histórias infantis... Aí os anos foram passando, casei , casaram-se as filhas, netos apareceram e quando eu me dei conta estava rodeada de três garotões, tomados de liberdade que conversam comigo acerca da última garota que “ficou”; do aumento da mesada, que reclamam “curta”; de “Alejandro”, último lançamento de Lady Gaga; sobre lançamentos automobilísticos: do novo Hyundai Azera 2011; do Volvo S60; do Comparativo Malibu; da aceleração rápida do SUV ; do desempenho do Land Rover Discovery 4;  sobre o Chery Cielo, o chinês não confiável. Ou ainda sobre  computação. E lá vamos nós discutirmos leitor de Blu-ray; placa de vídeo com memória dedicada de 512 MB; 4GB de memória RAM e HD de 500 GB; Turbo Boost com desempenho extra.

Mas também tem duas mocinhas lindas em todos os sentidos, extremamente vaidosas para as quais, eu a vovó, fica toda embevecida e não se cansa de aplaudir o vai- e- vem delas na passarela em que se transforma a nossa casa a cada compromisso social ou um simples passeio no shopping.
E assim, não pela forma que eu imaginava, cheguei a condição de vovó, mas sim, sentada diante de um computador, sem robe, mas de bermudas, de óculos ,mas não na ponta do nariz, sem dentadura nem aparelho de surdez., rodeada de cinco netos , duas filhas, dois genros e um filho distante, que não me deu netos ainda e que constituem a minha família. São os meus amados, causa da minha felicidade, da minha alegria de viver.    Em que pese a falta que sentimos do nosso comandante



que nos deixou tão cedo. Contudo, eu não fiz feio, toquei o barco pra frente, ancorei em porto seguro e cá estamos nós sãos e salvos.





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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Dia dos Avós
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Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 26/07/2010
Reeditado em 26/07/2010
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