Um bêbado no coletivo

Tarde de Sábado do dia 19 de janeiro de 2001, como muitos brasileiros, saio do trabalho apressado com a sacola a pender sobre os meus ombros e dirijo-me ao ponto de ônibus para aguardar o transporte que me conduzirá ao "lar doce lar".

Na viagem de ônibus, fico a observar o motorista, o cobrador e demais passageiros, cada um absorto em seus pensamentos. Também me acho concentrado e monologando, a respeito das pressões externas que de tão perto me sufocam.

De repente muda a atenção de todos para um bêbado que entra no coletivo, falando alto e xingando uma pessoa que ele havia encontrado alguns minutos atrás, ele paga sua passagem com uma nota de um real e algumas moedas, continua a praguejar sem parar!. Passageiros se mexem em seus assentos, outro passageiro toma as dores e parte para cima do "bêbado" e começa a xingá-lo também, agora são dois, e mais vozes, tumulto no coletivo, alguém esbraveja:-- Motorista, quando ver uma viatura, pare-a para que este sujeito desça!. Outros passageiros se revoltam contra o bêbado e contra o agressor do bêbado. – Jogue os dois do coletivo gritou alguém!

Enfim, desce o bêbado e alguns pontos depois o agressor, a calma volta a reinar no coletivo.

Começo a refletir: " será que também não somos como este bêbado?" o que nos diferencia desta pessoa é que ele ingeriu bebidas e nós podemos estar sóbrios, nós não externamos o que está no íntimo por causa da vergonha e o caráter. No alcoolizado é diferente a bebida o torna valente e "sem vergonha".

Há uma “poderosa força que nos inibe a agirmos como o bêbado é o autocontrole”

Também queremos externar nossa raiva, mas engolimos "à seco", mas o mal cria raízes no nosso âmago, raiva dos políticos, baixos salários que foram retidos pelos patrões, familiares ou alguém que feriu nosso ego. Nosso hálito não fede como o do bêbado, mas muitas vezes as mazelas que estão no nosso íntimo exala algum odor fétido!.

Estamos no coletivo da vida, e os que estão em contatos conosco, muitas vezes descem em pontos que nunca mais os veremos, outro ficam conosco mais alguns instantes no coletivo da vida, às vezes quem nós pensávamos que iria até o fim nesta viagem, desembarcam e nos deixam só!.

Onde estará o bêbado do coletivo? Meu companheiro de viagem que tanto transtorno trouxe aos passageiros. Talvez nunca mais o veja, mas deixou uma lição que me fez reconsiderar muito.

Será que às vezes não estou a incomodar os passageiros neste coletivo da vida?. Amanhã ele será apenas um "ex-bêbado" e os meus atos que perturbam meus semelhantes poderão causar sérios danos!

E a viagem continua...

Professor Jeronimo
Enviado por Professor Jeronimo em 26/07/2010
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