REESCREVENDO .

Já se havia passado muito tempo sem que buscasse papel,caneta e rabisco.

Não sabia ao certo o que sentia/ressentia/pressentia/pré sentia e o que queria/deveria sentir ou não.

Acordava " com ... tudo sempre igual" e a vida seguia sacudindo-a dos sonhos antes mesmo das seis da manhã. Sem saber ao certo, desejou escrever,desabafar,talvez desabar.

Nos últimos meses,dias,semanas e segundos, já nem se lembrava ao certo, um paradoxo de sentimentos invadiu sem cerimônia o peito,a mente e a vida.

Já havia chorado,sorrido/sofrido,amado/gozado ,se refazendo e se desfazendo incontáveis vezes,afinal isso faz parte da vida e jurava nunca mais sofrer ( julgava mesmo não merecer) e até se prometeu nunca mais morrer de paixão.

Sim, a paixão efêmera que é chega, explode,implode/implora e se evapora/fenece, algumas vezes dando vida outras oferecendo uma morte interna.

O fato é que os dias se passavam e tudo/nada mudou. A vida seguia aflita/mansa,dolorida/doce,repleta/ociosa...seguia.

Os dias iam se delineando entre luzes e leitos,guerras/tréguas/vitórias/derrotas,mas o que queria na verdade era justificar o injustificável: se não escrevia era por não querer desabafar/desalinhar os pensamentos/sentimentos/sentidos. Apenas calou as mãos/traços e rastros no papel na angústia de entender o que estava havendo dentro de si.

O mistério que tomou sua alma de surpresa a arremessou a adolescência e a sacudia na maturidade possuia um rosto,um corpo uma voz,um olhar de fogo que queimava a essência mais íntima de seu ser,fosse pelo afeto/apelo ou apenas pelo simples olhar.

Não queria escrever e confessar que ao conhecê-lo apenas houve curiosidade de saber a razão pela qual se investigavam intimamente.

Sentiu medo banhando suas mais fortes/frágeis fibras, houve um rompimento de laços,uma separação de emoções/tesões/intenções, podia ouvir o silêncio gritando e o ruído se intercalar, se calando,

doendo/dissolvendo tudo/nada.

De real (re)lances,flahs de momentos que iam e vinham na mente, nos fatos corriqueiros/banais/canais abertos aos sonhos.

Não sabia mais escrever e temia se conhecer/reconhecer e fazer de pano de fundo aquele momento mágico e estranho. Já não era uma menina há muito e a vida surgia sem açucar/sem afeto e sem os óculos cor de rosa. Como sempre trazia de companheira fiel e incansável a solidão a qual já estava acostumada.

Havia uma razão para não escrever afinal havia muito que não se permitia dar vazão ao sorriso dado/trocado/conquistado e ao olhar que de tão profundo penetrava e parecia tocar a alma,incendiando as mais íntimas células do sentimento,acariciava a essência e chegava a doer no peito lutando contra uma respiração ofegante e cada vez mais uma vontade de viver tudo de novo, como em uma espécie de orgasmo sem toque carnal.

Não sabia o que estava sentindo,mas conhecia bem as cicatrizes da vida afinal as tinha.

Mas naquele dia resolvel escrever/falar com a alma e investigar mudanças que poderia ser devastadoras, mais uma cilada da vida.

Escrever de novo?!

Logo agora que resolvera nunca mais se explicar/expor e descartava linhas/entrelinhas e se debatia debalde entre corpo e alma.

Uma coisa sabia com certeza: as palavras estavam fluindo muito melhor e pode novamente adormecer quase em paz...

...aguardando o próximo conto/poema ou crônica do destino.

E seguiria somente se reescrevendo.

Márcia Barcelos.

20 de março de 1993.

Márcia Barcelos
Enviado por Márcia Barcelos em 29/07/2010
Código do texto: T2406268