O ULTIMO PEDIDO

Fabiano estava apressado, seu coração palpitava aceleradamente. Estava indo rumo ao boteco do Seu Nestor a procura do irmão Edmilson, um alcoólatra inveterado.

Precisava chegar rápido, pois sua mãe, estava muito doente e queria falar com Edmilson, talvez pela última vez.

Finalmente à passos largos chegou até o boteco, ao ver o irmão, tomando cachaça, falou meio que em desespero:

- Edmilson mano, a mamãe ta lá em casa, muito doente, ela tá passando muito mal, e ela quer lhe ver imediatamente.

- Vai na frente que daqui há uns cinco minutinhos eu já chego em casa, vou só terminar de tomar esse trago- respondeu Edmilson.

Fabiano saiu do bar e foi à caminho de casa. Enquanto isso Edmilson continuou “enchendo a cara” dando pouca atenção as palavras do irmão. Para ele pensava se tratar de mais um mal estar de sua mãe, coisa de gente velha, pensou ele consigo mesmo.

- Seu Nestor , bota mais uma dose....

Já havia se passado quase uma hora, desde o momento em que Fabiano saíra do boteco e nada do Edmilson chegar na casa de sua mãe. Fabiano bastante indignado e percebendo que o estado de sua mãe piorava apressou-se em retornar ao bar. Lá chegando viu o seu irmão serenamente com um copo de cachaça na mão e uma garrafa de 51 em cima da mesa. Aquela cena o deixou furioso. Fabiano, embora fosse o irmão mais novo, com o tom de voz de uma severidade paterna falou à Edmilson:

- Vumbora a mamãe está pra morrer e quer lhe ver agora...

- Daqui a cinco minutinhos eu chego lá vai na frente- falou Edmilson.

- Vai na frente uma pinóia – nos vamos é agora- retrucou Fabiano, ao mesmo tempo que segurava o irmão pelo braço e o arrastava até sua casa.

La chegando Edmilson viu sua mãe num estado terminal. Dona Madalena aquela senhora de cabelos brancos e rosto enrugado e mãos calejadas, pela lida da vida, era o retrato do desgaste humano. Com uma serenidade de mãe a voz meio embargada aquela senhora, meio que arquejando foi falando à Edmilson:

- Meu filho, como sofro ao lhe ver com essa garrafa de bebida na mão- Por tudo quanto é sagrado eu sinto que vou morrer, de hoje eu não passo, por isso mandei te chamar. Quero que te fazer um ultimo pedido.

- Diga mamãe- falou Edmilson

-Meu filho por favor, me prometa , mas me prometa mesmo que a partir de amanha, você irá parar de beber, prometa que nunca, que nunca mais, a partir de amanhã, você irá colocar um copo de bebida alcoólica na boca, prometa meu filho prometa- completou Dona Madalena com os olhos mareados de lagrimas e a voz entoando um leve soluço a medida que finalizava a frase e respirava com dificuldade.

- Mãezinha – falou Edmilson - por tanto tempo eu tenho convivido com esse maldito vício, freqüentei o Alcoólicos Anônimos , estive internado em casas de recuperação e até em igrejas evangélicas busquei solução para o meu problema. E a senhora como ultimo pedido, quer que eu, a partir de amanhã, não coloque mais um copo de bebida alcoólica na boca.

- Sim meu filho, é o meu ultimo pedido – falou Dona Madalena, respirando fundo, num esforço titânico para pronunciar as palavras , como se aquele também fosse o seu ultimo fôlego de vida.

Edmilson, olha para sua mãe, e com os olhos vermelhos numa mistura de embriaguez e lagrima. Respira fundo e entre soluços que cortam suas frases fala:

- Põ mãe .......snif snif,......logo amanhã...........snif,snif........ que começa........snif snif.......a safra do caju a senhora me faz um pedido desses.

VITOR SERGIO
Enviado por VITOR SERGIO em 29/07/2010
Código do texto: T2406280
Classificação de conteúdo: seguro