183 - O MANÉ-GATO FICOU COM O MICO...


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ão tantas abordagens na Confraria dos Amigos do Chiquinho Alfaiate que seria impossível relatar em um único momento. Local de grande fluxo de pessoas também inúmeros assuntos. É preciso ficar atento e ser bom ouvinte para captar.

Bons contadores de causos sempre passam lá para um dedim de prosa. Mesmo que não possam demorar os fieis escudeiros da Confraria comparecem, nem que seja para assinar o ponto, e vão ficando mais um pouco e mais um pouco de repente se dão conta que mais de hora já se passou. É tal de sair vazado para cumprir algum afazer, mas, também tem os que ficam bem à vontade só proseando.

Dado momento falávamos sobre pessoas com apelido estranho aqui em Itabira como no caso narrado pelo radialista-sanfoneiro-pianista-dentista Evandro Guerra, referindo-se a fala do João Gambá que desancou os presentes dizendo que o ar estava cheirando a mofo de tanta velharia no local. Nesta data, vários outros apelidos foram também lembrados: Ivan Lavanca, Pé-de-Rôdo, Deúla, Mané-Gato, Caetano Pontaria, Sari...

Nascido Emannuel da Silva, desde criança lá no distrito do Macuco perto da zona rural denominada Santa Tereza, agora, também conhecido como “Manoel o Tintureiro” figura das mais antigas a transitar por estas tortuosas ruas da nossa querida cidade. Ele deve ter hoje mais de oitenta anos, mas, desde rapaz sempre trabalhou. Vivia defendendo seu dinheirinho fazendo vários trabalhos nos casarios das famílias mais abastadas da cidade. Limpeza de jardins e hortas eram serviços que jamais lhe faltaram.

Dizem os seus amigos que o Manoel nunca foi de gastar dinheiro, morava de favor em algum porão ou sótão nas casas onde prestava serviços e tomava seu banho diariamente no Poço da Água Santa. No inverno, verão, outono ou primavera, não tinha medo de água fria.

O dinheiro que recebia guardava-o em latas, se fossem moedas, e no caso de notas, escondia-as no colchão quando ia dormir. Era pobre durante o dia, mas à noite, dormia sobre seu tesouro.

A rapaziada da época adorava brincar com Manoel pedindo-lhe dinheiro emprestado o que ele jamais admitia existir. Uma das brincadeiras que mais gostavam era dizer que numa destas inúmeras trocas de moedas que aconteceram neste nosso Brasil varonil, houve época em que o Manoel não ficou sabendo ou atento às datas de fazer a troca no Banco da Lavoura e perdeu duas latas de gordura de coco cheinhas de moedas e as notas rôtas e puídas que serviam para encher seu colchão.

Aqueles que o conhecem há mais tempo dizem que depois desta quase tragédia humana de perder os valores amealhados por toda uma vida, o Mané-Gato, ficou ainda mais introvertido e de mal com o mundo com o mico que pagou ficando com seu rico dinheirinho totalmente desvalorizado nas mãos e nas dobras do colchão.

Como diria minha avó, quem guarda com fome o gato come. Neste caso, o gato não comeu, mas, pagou o pato da usura.  Até hoje ele ainda é visto pelas ruas recolhendo latinhas de alumínio e refrigerantes para defender algum para sua manutenção.
Disse-me um dos seus velhos conhecidos que agora ele esta sempre levando seu rico dinheirinho para o banco, é que Mané-gato escaldado, agora, tem medo até de água fria.  Para os da sua época um amigo para as novas gerações, um lendário desconhecido.
 
“CONFRARIA DOS AMIGOS DO CHIQUINHO ALFAIATE”

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Jornal Fonte da Pedra
Jornal o Passarela
 


CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 04/08/2010
Reeditado em 02/11/2010
Código do texto: T2418946