ASSASSINATO SOBRE RODAS.

Infelizmente o assunto que estamos abordando tem esta chamada.

Poderia ser outro assunto, outra chamada que desenvolveríamos, mas foi um acontecimento que chamou a atenção da população curitibana, do estado do Paraná e quem sabe em algumas outras cidades brasileiras.

O fato em si, não se pode negar foi grave. Gravíssimo. O personagem deste fatídico acontecimento um parlamentar interiorano, sem o menor preparo político, emocional e psicológico, mas estribado em um excelente preparo financeiro e monetário. Tipo do filinho de papai. Bem apessoado, tipo galã, freqüentador das colunas sociais, que segundo as “peruas” tinha uma pegada de tirar o fôlego. Dinheiro, carrão, apartamento descolado, conhecedor de bons restaurantes, motéis e de mínimo preparo parlamentar.

Sua participação no legislativo paranaense pode-se dizer que foi pífia, para quem desejava fazer do apoio político paternal uma carreira familiar política.

Não o fez. Jogou fora, jogou na latrina da vida, todas as esperanças político/partidária. Jogou no aterro sanitário da vida, a sua própria vida. Jovem, bem apessoado, o genro que a mamãe gostaria de ter. Estribado em um patrimônio econômico e financeiro muito sólido. O pai prefeito de uma cidade do interior do estado do Paraná, Guarapuava. Excelente cidade, excelente povo, excelente clima, excelentes cadeias produtivas do agrobussines, mas....

E então a desgraça veio a bordo de um carro importado e em alta velocidade.

Esta desgraça traduzida em morte de dois jovens, para os quais o futuro estava dando os primeiros sinais. Um filho de família que na voz pungida da mãe, que gritava do fundo da alma materna, por Justiça. O outro filho de família modesta, mas não menos sofrida e gritante por Justiça. O acontecimento correu Brasil afora. Páginas e páginas de vários jornais e revistas. Noticiários locais televisivos deitaram e rolaram. A mãe de uma das jovens vítimas surgiu tal qual fera defendendo a cria. Só que morta. Triste epitáfio em forma de adesivos: 190 quilômetros por hora é crime. Esta era a velocidade do veículo. Mídia e mídia. Chegou à beira de intoxicação. Jornais de bairros, jornais da região metropolitana jornais do interior e em especial que faziam oposição tanto ao pai como ao motorista do veículo importado que transitava ou quase voava a 190 quilômetros por hora se deliciavam com a desgraça tripa.

Advogados tarimbados aproveitaram a ocasião para fazer parte do show e ter os seus quinze minutos de fama, em especial quando eram entrevistados por repórteres de televisão. Elucubrações mil. Condenações antecipadas. Sentenças proferidas. Recursos e apelações protocoladas. Já se antevia o tipo de penitenciária. Se teria ou não direito a progressão da pena. Condenação final: 32 anos em regime fechado e sem direito a visitas, sexo, comida, leitura, banho de sol e outros tipos de penalidade. Quem proferiu tudo isto? O Juiz que presidia o Júri? Não. Nem instruído fora o processo. Culpado. Sim culpado, após a decisão do Júri Popular e a sentença do Juiz. Antes, meras e horrendas profetizações escrementais. Sem valor algum. Mas o que leva então a este tipo de condenação via mídia? Resposta: A Imprensa brasileira perdeu o norte. A Imprensa brasileira democraticamente noticiou o fato, como é seu direito e dever único e inatingível. Baluarte da democracia. Última das últimas barreiras a ser rompida, que traduz a voz dos oprimidos e injustiçados. Até aí este Sagrado Dever da Imprensa não pode ser questionado. Elogiado sim. Mas... e quando condena por antecipação? Quando induz a uma forma de raciocínio perverso? E quando se imiscuí no sagrado privativo jurídico do magistrado?

Na realidade nada se justifica buscar uma forma atenuante, para conformar as duas famílias que perderam seus tão queridos e amados filhos. Nada irá devolvê-los. A dor, a saudades, os momentos até então vividos, serão eternizados nos corações das mães, dos pais, parentes e amigos.

Mas esta dor se alonga se agiganta e desmesuradamente cresce em forma de uma espiral aberta, quando a imprensa teima e insiste de forma quase que tóxica em dar ampla cobertura para um assunto que dentro do contexto próprio da dor, da perda e do sofrimento, já causou ferimentos que irão perpetrar-se por toda uma existência terrena.

Infelizmente a nossa querida e democrática imprensa, vem demonstrando um grau de tendenciosidade.

No mundo em que vivemos a realidade beira a uma paranóia global. Existem meios de comunicação que são verdadeiros chutadores de cachorros mortos. E pior que os profissionais destes meios de comunicação, muitas das vezes se elegem à cargos políticos de relevância e conseguem fazer desta situação dupla: divulgador de desgraças e político um excelente meio de buscar verbas para seus programas.

Entendo ser chegado o momento da imprensa brasileira analisar as 7 Violações de Objetividade na Mídia.

DEFINIÇÕES E TERMINOLOGIA ENGANOSAS

REPORTAGENS SEM EQUILÍBRIO

OPINIÕES DISFARÇADAS COMO NOTÍCIAS

FALTA DE CONTEXTO

OMISSÃO SELETIVA

USO DE FATOS VERDADEIROS PARA LEVAR A FALSAS CONCLUSÕES

DISTORÇÃO DE FATOS

Finalizando.

O simples fato de lermos jornais, que estampem em manchetes esta ou aquela razão, não podemos ser induzidos ou tangidos quais humildes ovelhas, a concordar com o destino de um fato que este meio entenda ser. Não podemos nos tornar objetos sem personalidade e passivos que se prestam a ser massa de manobra de profissionais que buscam na desgraça alheia o seu coroamento financeiro, sem respeitar tanto os leitores, como as vítimas das desgraças da vida.

E como dizia Mark Twain: Se você não lê jornal, é ignorante; se lê é mal informado.

Portanto o assassinato sobre rodas, foi a manchete que mais rendeu nos últimos tempos.

E hoje, exatamente neste momento toda a mídia está de plantão no pátio do Tribunal do Júri, para transmitir a primeira oitiva do causador de mais uma desgraça no trânsito brasileiro.

Uma perguntinha só. E se o causador fosse um Zé Ninguém, que comprou um carro de quinta mão e causasse todo este desastre, toda esta desgraça a imprensa estaria dando toda a cobertura?

E se dois rapazes humildes, trabalhadores, cumpridores dos seus deveres, filhos amados, filhos exemplares tivessem atropelado o dito deputado? A imprensa daria toda esta cobertura?

Não existem fatos e atos mais profundos que necessitam da cobertura da imprensa?

Lógico que existem. Mas não vendem exemplares e não aumentam os índices de audiência.

ROMÃO MIRANDA VIDAL
Enviado por ROMÃO MIRANDA VIDAL em 10/08/2010
Código do texto: T2429732