O SUSSURRAR DOS SAPOS!
Comecei a escrever sem ao certo saber como iniciar: se descrevia as condições climáticas ou se ia diretamente ao motivo pelo qual me debrucei diante do computador. O sono não mais importava e no fundo dos meus olhos sombras de lágrimas bailavam ao som da valsa da morte – se é que há alguma.
Durante a madrugada do dia dois de julho, dia de grande festa na Bahia – dia de sua independência, zero hora para ser mais exato, chuviscava lá fora e apenas os sapos coaxavam aos sussurros palavras que não consegui decifrar, e mesmo estando as portas fechadas, em meu quarto o frio apresentava-se a mim desolador, trazendo consigo o barulho sonoro do tempo que insistia em chorar gotas alternantes de dor... Como choveu nessa noite! Um cobertor mineiro de 1,80m x 2,10m lançava-se sobre minha solidão, aquecendo-me o coração e a alma que se encontravam carentes do mais tenro calor humano.
Desconsolado, ao lado de uma das maiores invenções da humanidade: o celular, pus - me a refletir seus prós e contras e constatei: “Como pode ser tão útil!” e ao mesmo tempo em que me liga ao mundo, deixa-me tão distante de tudo e de todos – pelo menos é assim que me sinto quando percebo que ninguém disca de qualquer lugar os números que “dão sentido à minha existência”. Com esta invenção posso contactar pessoas distantes, efetuar compras, namorar, colocar o papo em dia, receber notícias,... São tantas as possibilidades!...
Nem sequer estacionei o pensamento e freneticamente o aparelho, fundido ao som do televisor, num jeito que é próprio dele, chamou-me, custei a crer que era a mim que chamava e depois de tê-lo atendido preferia que mil vezes tivesse sido na TV que ele estivesse tocando. Do outro lado da linha uma voz num misto de euforia e pavor, trazia-me aos prantos uma notícia de falecimento... “Pois é, ele morreu!”
“Como alguém tão jovem, aparentemente sadio, morre assim, sem mais nem menos!?” Viajou – assim prefiro dizer - e levou consigo o don de ornar com maestria e beleza os nossos olhares com seu colorido todo especial, com toda a sua alegria contagiante... Suas ações expeliam vida e por isso procurou até o último instante sugar de sua curta existência o elixir da felicidade constante, a cada pulsar de seu coração – sendo a ausência desse, a razão de não o termos mais.
Passei a entender o porquê do lacrimejar da noite, chorava ela por perceber-se feia, por ter sabido que aquele que lhe trazia graciosidade não mais seria in vitae cúmplice de suas baladas, aventuras, de suas embriaguez, de seus enlaces, de suas comemorações... Com certeza a lua e as estrelas perderão parte de seu brilho, os ritmos juninos - inclusive os comemorados no Poço Redondo ou a serem dançados na Rua 02 de Julho – serão descompassados; e desafinadas durante um bom tempo serão todas as canções...
“Hello!” – tocou o celular – às zero hora e nove minutos, nesse instante compreendi finalmente o que cochichavam aqueles anfíbios de pele rugosa. Antes não tivesse desejado receber ligações! Antes não possuísse um celular! Antes, quem sabe, não existisse a morte!
Tornei-me então, não por vontade própria, cúmplice da noite que adentrava madrugada... Sim, choramos, todos juntos, lágrimas sinceras de saudades.
Como fez frio!
Como fez frio!
02 de julho de 2006