NADA MAIS PRÁTICO QUE UMA BOA TEORIA.

Sempre gostei de teorizar. Isto porque desde que me entendo por gente sou curioso. Como muito cedo desenvolvi o hábito da leitura, passei a ser investigativo e pesquisador. Logo que surgia algum assunto novo que incitava minha curiosidade, procurava em livros, revistas, jornais e indagava às pessoas mais velhas e experientes. Por isso desde novo sou capaz de conversar, mesmo que superficialmente sobre quase qualquer assunto (modesto eu, não?). Em alguns eu me tornei profundo conhecedor, embora nem sempre, ou quase nunca colocava em pratica.

Na adolescência por exemplo, o que mais interessa e aflige aos meninos é a relação com o sexo oposto (só na adolescência?). Pois então quando estava nessa fase me dediquei a estudar o assunto. De tanto ler, refletir, escutar, perguntar e observar, desvendei todos os mistérios da conquista. Sabia qual o tipo de conversa agradava às mulheres, o momento certo de encaixar um elogio, os elogios preferidos, olhares, gestos, etc. Poderia escrever um livro sobre a arte da conquista, com garantia e tudo, tipo satisfação garantida ou seu dinheiro de volta.

Porque essa confiança? Porque tenho certeza da eficiência. Se deu certo comigo? Bem, mais ou menos (mais pra menos) . É que todo cara bom de teoria é fraco de ação. Meio devagar, sabe como é que é? Além do mais sempre fui tremendamente tímido e para colocar em prática as técnicas que desenvolvi seria preciso primeiro vencer a timidez. E aí seriam outros quinhentos, teria que pesquisar as causas e as soluções da timidez e tudo o mais (vou confessar, eu até que pesquisei, só que não coloquei em prática).

Mas pelo menos me tornei um bom conversador. Ah, se tornei! Agradava, descontraía, fazia graça, mas ficava só nisso. Num bom futebolês, tocava a bola com maestria mas não batia pra gol. Meu irmão, um tremendo gozador perguntava se eu estava vendendo produtos da Avon, de tanto que conversava amigavelmente com as meninas.

Nunca fui conquistador e, conseqüentemente não fui namorador. Posso contar nos dedos as namoradas que tive. E olhe que gasto se muito metade dos dedos. Uma coisa que logo observei era que as mulheres gostavam de cara porra loca, doidão, meio cafajeste, neguinho mal. MULHER GOSTA DE SOFRER, conclui à época sem sequer desconfiar da existência de um tal de Nelson Rodrigues. Só que eu era exatamente o oposto: bonzinho, ouvinte, conselheiro, bundão mesmo. Como eu me odiava por isso!

Foi nessa ocasião que surgiu na sala de aula o apelido de João Teoria. Mas em vez de mexer comigo, me levar a ser mais prático, tornei-me ainda mais teórico. Minha fama correu e os amigos passaram a me procurar para comentar os assuntos mais diversos. E lá estava eu dando conselhos para o cara que brigou com a namorada, para o outro que recebeu uma proposta para mudar de trabalho, e sobre os assuntos mais inusitados. E daí eu pude exercitar à vontade, e com um certo orgulho confesso, minhas teorias.

---Dizem que o Lazaroni vai escalar a seleção brasileira com líbero. Alguém sabe o que é isso?

---Pergunta pro João que ele sabe.

É claro que eu sabia, já havia pesquisado.

---Bom, líbero é o seguinte: o time joga com três zagueiros, a defesa fica mais protegida, os laterais tem liberdade para atacar e passam a se chamar alas, o zagueiro do meio é denominado líbero, desfiava eu cheio de pose.

Uma vez desejei correr, praticar jogging. Para não fugir à regra, quis antes pesquisar o assunto a fundo e adquiri um livro a respeito. Aprendi sobre batimentos cardíacos, alongamentos, postura, equipamentos, tudo enfim. E pra só pra variar, não passei da teoria. Quando um amigo foi participar da eliminatória para a São Silvestre no Rio de Janeiro, dei-lhe uma verdadeira aula teórica sobre corridas. Falei sobre a preparação de véspera, a alimentação adequada, o uso de pílulas de sal, a estratégia, a cronometragem e tudo o mais. Ele ficou boquiaberto.

---Como é que você sabe disso tudo?

---Leitura, meu caro, leitura.

Vamos falar sobre emagrecimento. Sei bastante a respeito, modéstia à parte. Metabolismo basal, tabela de calorias, atividades físicas adequadas, efeito sanfona, tipos de dietas, etc. Em termos de leigo tiro o chapéu para o Jô Soares, que sabe mais do que eu. A essa altura quem não me conhece deve estar curioso para saber se sou gordo. Convenhamos, porque você acha que eu me informei tanto sobre esse assunto se não sou nutricionista nem médico endocrinologista?

Quando me ingressei no curso de Administração conheci uma frase que foi para mim um verdadeiro alento. NADA MAIS PRÁTICO QUE UMA BOA TEORIA. Assim que ouvi esta citação, gamei na hora. Show de bola, pensei. E a adotei como lema. Aliás, já a havia adotado há muitos anos, mesmo sem conhecê-la. Algo assim meio transcendental, sabe? E o professor não se cansava de repeti-la. Hoje eu penso que ele era também um teórico, assim como eu, meio avesso às ações.

O grande problema é que passei a ser perseguido por uma outra frase que descobri logo em seguida: MAIS VALE UM QUILO DE PRÁTICA QUE UMA TONELADA DE TEORIA. A partir de então comecei a procurar motivações que me levassem a passar da teoria à ação. Senti que precisava desenvolver este aspecto de minha personalidade, trabalhar mais o meu lado prático, já que o teórico é naturalmente aflorado. Acredito que tenha conseguido um certo êxito. Prova disso é que venci a inércia e escrevi este texto. E se você esta lendo é porque venci a timidez e tive coragem para publicar. Nada mal para um teórico, heim?!

O que? Se eu ainda teorizo e pesquiso os assuntos curiosos? Bom,estamos na era da Internet, sabe como é que é. Quando se quer saber alguma coisa basta acessar uma boa ferramenta de busca, digitar a palavra procurada, clicar PESQUISAR e pronto: o mundo se abre diante de seus olhos. Aí não tem mortal que resiste!

João Eduardo
Enviado por João Eduardo em 18/09/2006
Código do texto: T243564