APRENDER FAZ BEM EM QUALQUER IDADE

Hoje, eu retornei à Universidade. Fui ao campus principal da instituição para buscar o meu Diploma de Bacharel em Comunicação Social – na área de Jornalismo – e tentar rever velhos companheiros, dentre eles, os mestres, claro. Infelizmente, o horário não me permitiu esse prazer. Mas, em compensação, me tornou possível várias reflexões, enquanto a senhora, encarregada de entregar o referido documento, providenciava a caneta própria para a minha assinatura no papel-moeda oficial.

Dei-me conta de que, do total de minha idade, mais de um quarto dela eu passei dentro desses muros. Adquiri, ao longo de mais de uma década, conhecimento e saber e, com isso, tenho podido enfrentar os desafios que a vida tem-me imposto – pessoal e profissionalmente. Revi cenas dos meus primeiros passos quando, ainda jovem “agitador”, ingressei na Faculdade de Matemática, cheio de vontade de decifrar o Código da Vida ou, pelo menos, solucionar um dos “sete desafios do milênio” e ganhar, com isso, o milhão de dólares dado para quem conseguisse a façanha. Soube, através da imprensa, que um russo conseguiu solucionar a chamada Conjectura de Poincaré (qualquer espaço tridimensional sem furos seria equivalente a uma esfera esticada – comprovada através de uma álgebra sólida para elevar a conjectura à categoria de teorema), depois de mais de um século de “peleja”. Se for nesse ritmo, talvez eu não consiga ver estampado o rosto do segundo felizardo dos outros desafios.

Ao dar uma olhada para os lados da FAFIC (Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais), a saudade tomou conta de mim e impregnou-me com o manto da História. Foi ali, na década de oitenta, que eu passei a realizar o sonho de estudar as ações do homem - no tempo e no espaço. Respirei fundo. Pela primeira vez, na minha vida, eu pude compreender um pouco do processo evolutivo da minha espécie. Da sua Pré-história até a Contemporaneidade, eu aprendi sobre a sua evolução, a sua cultura, os seus costumes, suas crenças, seus medos e suas descobertas. Sinceramente, eu senti saudade.

E, ali, parado, à espera do tão sonhado papel timbrado, eu, novamente, me fiz passado e voltei ao ano de dois mil e cinco quando fui desafiado, pela minha filha, a enfrentar uma nova jornada acadêmica. Inicialmente, eu achei que não deveria. A minha cabeça, os arquivos dela, todos já quase preenchidos. Mas, uma frase, que carrego comigo (“adquirir conhecimento não tem idade limite e nem prazo de validade”), e a persistência da minha cônjuge me fizeram concorrer a um vestibular, mais uma vez. Fui feliz no resultado: estava aprovado para estudar Comunicação Social. Fantástica experiência. Interagir com os melhores profissionais da comunicação da minha cidade, receber conteúdos de mestres gabaritados, conviver com pessoas de todas as idades e ser, principalmente, referência para muitos deles, me trouxe muito estímulo para concretizar o sonho de, mais uma vez, colar grau.

Finalmente, a senhora veio ao meu encontro, trazendo, em uma das mãos, o fruto de quatro anos de labuta acadêmica diária. Assinei o livro de entrega. Depois, suavemente, sem pressa, passei a escrever, naquele impresso, a marca pessoal – aquela que diferencia cada um de nós. Em meu imaginar poético, o palco se descortinara e a plateia, composta de todos os meus familiares, assistia à cena principal do ato: a assinatura oficial da mais nova testemunha do seu tempo e que, através desse testemunho, passaria a procurar pontes transitáveis entre o objeto (fato) e a notícia verdadeira, narrada com responsabilidade social.

Por fim, encaminhei-me para o prédio mais concorrido do campus: o de tirar xerox. Lá, enquanto tirava uma cópia do Diploma, sentou-se, ao meu lado, uma distinta senhora alta, morena, aparentando estar na casa dos cinquenta, conservando a beleza dos seus tempos de mocidade e que, assim como eu, estava ali para tirar cópias de documentos. Como a tarde estava meio preguiçosa – e a mocinha da fotocópia realizava as ações no mesmo ritmo – eu puxei conversa com a dita senhora para ver se o tempo passava mais rápido.

-Depois de velho, eu inventei de voltar a estudar! – disse.

Ela me olhou, sem pressa alguma, e, como querendo puxar minha orelha, falou com um sorriso no rosto:

-Eu também. Depois de fazer Matemática, passar a vida inteira em sala de aula, me aposentar, resolvi ingressar na Universidade, de novo, e cursar Química.

-Mas, logo Química! – exclamei, de fato, surpreso.

-Sim, Química. Adoro. Sabe, é melhor que ficar em casa sem fazer nada, vendo o tempo passar, ou passar o tempo procurando doença para o corpo. Aqui, estou livre de ficar com a mente desocupada ou estragando meus netos. Ah! E não vou parar por aqui não. Pretendo fazer mestrado na área.

-Sabe, você me tirou um peso enorme e me incentivou, para quem sabe, uma nova incursão por esse chão – disse eu um pouco mais animado.

Saí dali, depois de me despedir de Maria Odete – que, além de tudo, para não ficar um expediente em casa, é coordenadora pública municipal –, com renovadas esperanças de que, com a ajuda dos mais velhos, os nossos jovens conduzirão, por bons caminhos, o futuro de nossa nação.


 




Obs. 3ª turma de comunicação Social - habilitação em jornalismo -, nos estúdios da TV Mossoró.

Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 15/08/2010
Reeditado em 07/12/2011
Código do texto: T2439109
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