SOBRE SOLIDÃO FEMININA

SOBRE SOLIDÃO FEMININA

Laura Leal

Lendo o que se escreve sobre “solidão feminina” percebo alguma incompreensão sobre o assunto. Geralmente são textos que levam as pessoas a ter a impressão de que as mulheres sozinhas estão todas infelizes e desesperadas – não são todas! Muitas mulheres estão sozinhas e se sentem muito bem. Ficar assim, mesmo tendo alternativas, é uma opção. Saem com um lá e outro aqui, mas acham que nenhum deles cabe na vida delas. Nessa circunstância, decidem continuar sozinhas.

Sei do que estou falando. Fui casada por muito tempo, tenho três filhos já adultos, sou uma mulher livre, batalhadora, independente e muito bem resolvida. Toco minha vida sozinha e de forma muito tranqüila.

Ontem enquanto olhava o céu da varanda do meu apartamento, lembrei- me de uma coisa importante sobre as mulheres: o prazer que elas têm de estar com elas mesmas.

Eu mesma, gosto de cuidar do cabelo, passar meus cremes, sentar no sofá com minha cadelinha nos pés e curtir a minha casa. Não preciso de mais ninguém para me sentir feliz nessas horas.

Conheço alguns homens perdidamente apaixonadas por suas parceiras e que se desesperam porque elas se sentem maravilhosamente bem fazendo coisas sem que eles precisem estar com elas. Gostam de deitar numa banheira, de acender velas, de ficar ouvindo música, ler ou assistir a um filme, sozinhas. E eles ficam enciumados daquela felicidade sem eles, acham que é um sintoma de falta de amor. E não é nada disso! Eles é que são inseguros, carentes.

Essa constatação me remete a uma percepção que sempre me pareceu evidente: a riqueza da vida interior das mulheres com relação a dos homens é muito muito mais intensa.

A capacidade de estar só e de se distrair consigo mesma revela uma densidade interior feminina, uma reserva de calma e uma capacidade de diálogo interno que a maioria dos homens desconhecem.

Os homens parecem permanentemente voltados para fora. Despejam seus conflitos interiores no mundo, procurando alterar o que está em volta. Assim, tentam transformar o mundo para se distrair, para não ter que olhar para dentro, onde dói. Talvez por essa razão a cultura masculina seja gregária, mundana e ruidosa. Realizadora também, claro! A pergunta que não quer calar é ... quantas “transgressões” eles precisam cometer para diminuir o silêncio interior?

A cultura feminina é diferente. As mulheres “mastigam” seus sentimentos, bons e maus, e os passam adiante, na própria rotina. E é por isso que é precitado imaginar que por trás de toda solidão feminina há desespero. Ou que atrás de todo silêncio há tristeza ou melancolia. Pode haver, simplesmente, uma escolha!

Ficar em casa sem companhia pode ser um bom programa – desde que as pessoas gostem de si mesmas e sejam capazes de suportar os seus próprios pensamentos. Não estou dizendo que isso é sempre fácil, porém, estar sozinho não significa estar solitário. Você sempre será uma ótima companhia para si mesma, independente de estar sozinha, ou não. O importante é aproveitar cada momento.

Laura Leal
Enviado por Laura Leal em 20/08/2010
Código do texto: T2448903