DESPEDIDA DE CASADO

- Esta crônica vai para FLÁVIA CÔRTES, e sua alegria carioca!

Quando o compadre Alfredo resolveu tornar público seu novo estado civil - após vinte e seis anos de casamento -, alugou um salão de festa em bairro distante, convocando os amigos mais chegados para uma espécie de despedida de casado. O sujeito parecia feliz! Aqui não me apegarei à descrição dos detalhes do que rolou naquela noitada comemorativa, entre os respeitáveis senhores - guardiões da moral e dos bons costumes, em Bom Despacho - e as lindas garotas “convidadas” para animar o evento. Gandaia para aquilo, é diminutivo! As horas tantas, até uma bichinha siliconada, revirando os cílios, exibindo a bunda, apareceu no rendez-vous. Alguém ainda não completamente bêbado convenceu-lhe a retirar-se do recinto. Mesmo que alguns de nós estejamos na fase de jogar pedra em avião, quer dizer - mulher só no poster da Playboy -, participávamos duma farra para homens, e macho que é macho...

Talvez não pegue bem eu revelar o que aprontou o Alfredo, nos dias e meses seguintes à separação. Alguns me tomarão por dedo-duro; outros por invejoso. Danem-se! Deslumbrado, ele quis tirar o atraso - bem me entendam os leitores - pelo quarto de século passado na beira da saia da comadre, no cabresto curto, distante, digamos, das alegrias mundanas! Quem proclamava ojeriza por cavalos, rodeios, e principalmente música sertaneja, passou a ser visto em tudo quanto era evento no Parque de Exposição de Bom Despacho, como nas cidades vizinhas: Divinópolis, Nova Serrana, Lagoa da Prata... Pescaria, então, de que se declarava inimigo número um: “- Programa de índio!”, virou freguês, comprando um barco a motor... Para pescar é que não era! Inclusive, encontro de motoqueiros, a quem ironizava por aqueles horríveis e mal cheirosos macacões de couro preto (se achando Marlon Brando, James Dean ou Che Guevara) ridículos, jogando piadinhas para garotas que podiam ser filhas deles, e que só curtiam as máquinas... Ali, salva-se apenas o rock do Creedence!

Todavia, que ninguém fosse passar-lhe a mão na cabeça, pensando que o Alfredo saía desacompanhado. Tinha lá seu charme. Mas ainda o que é bom, vai indo enfara, vira rotina. Após um ano de solteirice resolveu sossegar o facho, procurar parceira fixa com quem dividir a solidão! Ali se iniciaram, deveras, seus problemas: quem seria a felizarda? Pendeu primeiro por uma dona, como ele nos cinquenta, para em breve abandonar a relação. Os diálogos não ajudavam: quando ele reclamava de algum princípio de reumatismo, a “princesa” respondia com queixas à maldita menopausa. Zero de chance! Sua alternativa seguinte foi uma quarentona enxuta. Bolas! Logo teria que dormir na casa de uma enteada, filha da coroa, pajeando-lhe os filhos, enquanto a folgada e o marido saiam para noitadas! É ruim! Uma balzaquiana, aos trinta: solução ideal. Tudo bem, se com ela não viessem aqueles pestinhas adolescentes e seus vídeo-games, skates... Tô fora! Como última investida, cismou com uma recém-separada, de vinte e poucos anos. Droga! Não tardaria a nascer-lhe chifres até embaixo dos sovacos. Bato falha!

- Vou ficar solteiro! Decidiu oficialmente. Até alguém lembrar-lhe dos desocupados que se aboletam nos bancos da Praça da Matriz, falando mal de todo mundo que passa... Homem na sua idade, ex-casado, sozinho, é porque resolvera assumir seu lado gay! Fodeu! Sábado à noite encontrei o Alfredo e a comadre, como dois pombinhos - arrulhando apaixonados -, entre brindes e juras, no restaurante Chalé do Jacaré. Ele fez de conta que não me viu. Eu de que não lhe conhecia...

dilermando cardoso
Enviado por dilermando cardoso em 22/08/2010
Reeditado em 13/02/2011
Código do texto: T2453173