Quase todas as noites me aproximo da janela, sozinha, para observar o silêncio.

Todos dormem e, apenas as almas penadas vagam solitárias pelas ruas. Escuto todos os ruídos...externos e muito mais os internos...aqueles que brotam da minha profundeza. Uns ruídos são lamentos, tristes lamentos de algum acontecimento que marcou alguns instantes da vida; outros são ruídos de risos, da alegria, da jovialidade, da esperança que nunca se afastaram da minha alma, da minha mente.

Eu gosto da minha insônia, porque ela me privilegia vivenciar momentos atuais repletos de vida, repletos de sentimentos tão variados que fico pasma de saber que minha alma, minha mente tem essa capacidade de reter momentos e de não esquecer o que já passou. Não quero esquecer nada do que vivi. Foram tristes ou alegres ele foram meus momentos, únicos momentos e, é nesse período de insônia que os vivencio novamente. Não sofro com essa experiência. Às vezes choro, o choro sufocado no silêncio da janela. Outras choro quando estou a escrever lembranças ou, simplesmente observando as estrelas, as luzes, a cidade apagada. Na minha vigília de mim, cuido dos ruídos familiares: o ronco de um “dormidor” de mal jeito, a tosse do outro, o revirar na cama de um deles. Atendo aos pedido de água. Hora do remédio de outro. Casa com muita gente é assim.

A dificuldade de pegar no sono não é nova. Apareceu quando as crianças eram pequeninas. As mamadas no peito, as doenças que necessitam de vigília constante., as febres intermitentes, a inflamações de garganta...afff...Ficava cansada e não dormia mais.

Ficava quietinha na sala, pegava um livro e ficava lendo sem fazer ruído para não atrapalhar ninguém.

Houve um tempo que qualquer ruído fazia pular meu sangue mais rápido: as histórias de assombração ouvidas na infância, os causos do velho “ Dito” emergiam da mente e eu suava frio e, aí perdia de vez o sono. “A meia –noite aparecem almas penadas, puxando os pé das crianças desobedientes”! Eu até via as coitadas das “almas penadas”. Hoje em dia até penso que essas almas deviam ser cobertas de penas, voadoras...Folclore...Histórias de antigamente...
 
A falta do sono, que aprece depois em outro horário, quando as pessoas já foram para a escola, para o trabalho, me ajuda a me informar e, aprendo muito, pois é hora de ler , tanto na internet, como no livro de papel.

Abençoada insônia. Companheira das minhas noites de vigília.


Este texto faz parte do exercício criativo- insonia

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MVA
Enviado por MVA em 27/08/2010
Reeditado em 31/08/2010
Código do texto: T2462362
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