Ah, rio Araguaia!...

Ah!, rio Araguaia!

Ah, rio Araguaia! A imaginação que voa feito papagaios, rumo ao horizonte.

O horizonte que se estende depois do cerrado, entre as chapadas.

As margens nas quais meu coração não se estanca com as imensidões indomáveis e, se apacienta com a visão da outra margem (uma outra vida, depois da travessia).

E o vento que alimenta de graça o banzeiro, no afago diário de suas águas.

Estando aí, cessam em mim quase todas as bandeiras e divisas e, o que sei é que o meu território é tão curto em braças, quanto são longos os abraços que te estendo e, que pretendo é apenas gozar do espaço das praias e banhos, com os presentes.

E sempre que chego, em vez de ablução, quero a imersão completa em suas águas, para me batisar outra vez e, pedir que suas águas lavem de mim todo o ranço excessivo de identidade, ensinando-me a saciar também de alegria, silêncios e as horas que se sucedem.

Ah, rio Araguaia! Vale de sonhos rebuscados, leito de visões e versos, fundos de redomoínhos de alma e vida.

Vou de mala e cuia. A família vai inteira. E nos atiramos na estrada tão certo do que buscamos!.

Os corações vão cantando em uníssono dentro de uma canção emprestada e, as vontades inteiras, mal podem esperar, enquanto o carro atravessa a longa estrada, em que vai se descortinando o cerradão, morros e tabuleiros.

Entrando em teu grande vale, as vistas já descansam, e já sossegam as expectativas já sossegam no peito, sabendo que vc está logo adiante, majestoso e belo, nas suas sinuosas curvas, onde brotam as prais de areias brancas.

À beira da sua barranca, as minhas preocupações apenas se desvanecem, para que, eu me entregue sem resistência à paz da vista e das paisagens de cartão postal estabelecidas margem acima.

A ti entrego minhas prendas de respeito e amores. De ti, espero a glória de viver o extase destes poucos dias em que me abrigas tão bom, tão velho e doce.

Enquanto o barqueiro nos leva para uma praia rio acima, não quero ouvir mais do que o som do barco singrando as águas da corrente, enquanto vou avistando nas margens as garças e tracajás ao sol, abrigados em alguma raiz ou escolho, tão despreocupados que, pergunto se não se sentem ainda no instante seguinte ao da Criação.

Enquanto monto as barracas, já vejo meus filhos ansiosos, esperando a hora de zanzar pela areia da praia praia, contentes e donos de si - como se algo de selvagem e reservado lhes redobrasse ali a vontade de ser e estar, sem dúvidas ou medo.

Quando for tarde da noite, quero ir descalço para a margem, para esperar a subida dos botos e, abrir a minha imaginação para as estórias contadas desde tempos imemorias, quando era dado ao peixe virar homem.

E, depois de dormir abraçado à amada próximo de uma fogueira, quero acordar com o chamado das quero-queros assentadas numa ponta distante da praia, e, como num ritual pagão de boas vindas ao dia e ao sol, quero caminhar pela areia molhada, ouvindo apenas o marulhar das águas e o som das pisadas na areia fria.

Você, Araguaia, mar sazonal, que é o o objetivo e o paraíso visado dos dias de férias e feriados dos goianos, de cujo prazer simples e inescedível só sabem aqueles que ali acamparam.

Você araguaia, pai da imodesta fauna e homens, posto que os frutos de suas vazantes e correntezas alimentaram gente e, enfim, emoldaram vidas, sentidos e juizos.

Ah, meu Araguaia! Pai da calma na mente, luzes nos olhos e, sossego na alma...