O PÃO-DURO

ENTRE PÃO DURO E PERDULÁRIO

Como você gasta? Alias, gasta?

Pois é essa a diferença

entre perdulário e pão duro

É um, otário, imaturo,

O outro, desconfia, só vê futuro.

O perdulário gasta desbragado, libertino

O pão duro é complicado, não gasta,

Para ele é desatino

Entre os dois tem o terceiro

Não abusa nem recusa

O que é preciso usa

Sem remorso, sem salseiro

Põe na balança o valor do dinheiro

Junta com a necessidade

Pensa sem gastar

Gasta sem vaidade

Esse aí não abusa

nem é receoso

Sabe de que jeito

Quando e como usa

É parcimonioso

Eu me lembrei desses versinhos que fiz num dia de cabeça agoniada por causa da perspectiva de um certo descontrole financeiro. Estava me achando consumista demais por querer um celular que fotografasse, tocasse música, filmasse e, claro, exercesse aquela função que mais falha: a de telefone, tudo num aparelho só. A pseudo-crise foi pelo fato de eu já possuir esses aparelhos separados. Pra quê, pensava eu? Comprá-lo ou não comprá-lo? Como ando muito de bicicleta, pensei em um objeto só, fácil de transportar e que chamasse menos a atenção na rua. Mas a crise se instalou, acabei não comprando e pus fim à guerra entre o anjinho e o capetinha da consciência fazendo os versos.

Agora é a Mina, minha amiga que vem me contar um caso de seu parente, tão pão-duro que quando a pasta de dentes está acabando, ele rasga o tubo com uma faca, como se estivesse abrindo um pão ao meio e raspa lá dentro com a escova para aproveitar o restinho que se agarra no tubo. Eu tentei justificar que pode ser que ele seja um ecologista que devolve os materiais descartáveis para o lixo limpinhos, no ponto de ir para a reciclagem, mas ela disse que é mesmo por sovinice. Consciência ecológica não é o forte dele. Segundo ela, o cara só compra produto pirata e ecologista que se preza não faz isso. Pirataria gera lixo inservível mais rapidamente por durar muito pouco. Ele é um pão duro de mão cheia, sem trocadilho. Palavras da Mina.

Não sou um gastador. Além de não contar com muitas sobras e por achar que o que preciso para viver é muito pouco, prefiro aproveitar meu dinheirinho com coisas que me satisfazem de maneira mais prolongada. Coisas que me dão uma alegria que não se acaba junto com o produto ou com o enjôo dele. Então, posso me considerar um parcimonioso? Sei lá, consumista é que não!

O que estou tentando mesmo é entrar na alma de um pão-duro, desses que ficam medindo cada centavo que vão gastar e demoram tanto a decidir que se fosse naquela época de inflação galopante, o seu sofrimento seria maior. O que era hoje de um preço, amanhã já estava mais caro. Como deve sofrer um pão duro!. Ou será que é a gente observando é que sofre por ele? Eu conheço alguns cuja maior alegria da vida é fazer o seu dinheirinho ser multiplicado numa pechincha. O cara fica dois dias falando da economia que fez comprando uma mercadoria mais barata. Só não pode é passar num outro estabelecimento e ver aquilo que comprou ontem na liquidação. É risco de adoecimento. Faz cara de mau humor, não conta para ninguém o motivo, fica remoendo, se torturando para penitenciar-se por não ter pesquisado mais ou esperado. Tem tanta coisa para se falar sobre essa turma controlada...

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P.S: Fui procurar o significado etimológico da palavra e acabei encontrando esta pérola para ilustrar a minha pobre crônica. Está do site: www.perguntascretinas.com.br/2008/08/05/os-10-mandamentos-do-pao-duro/

OS DEZ MANDAMENTOS DO PÃO-DURO

1. Nunca dizer: “Pode ficar com o troco”.

Troco é troco. É nessa pequena economia que se junta alguma coisa no final do mês. Ou, se não der para juntar, prolonga o final do mês.

2. Não colocar a mão no bolso em vão.

Comprar deve ser um verbo menos utilizado do que hoje em dia é. Se briga com o namorado, sai para comprar. Se volta com o namorado, sai para comprar. Pense antes de gastar o suado dinheiro.

3. Amar seu bolso como a si mesmo.

Seu bolso faz parte do seu corpo. Maltratando seu bolso com compras no impulso você estará se maltratando. Como a musiquinha no colégio… “Cabeça, ombro, bolso, joelho e pé. Joelho e pé…”.

4. Lembrar que tudo tem sem preço. Então, vamos às promoções!

Com mais organização e familiaridade com os preços, conseguimos boas promoções. Experimentar um produto mais em conta é boa estratégia. Não significa consumir um produto ruim só porque é mais barato.

5. Pechinchar sob todas as formas.

Para alguns povos, como o árabe, por exemplo, comprar o produto pelo preço que lhe é oferecido chega ser uma ofensa. Eles esperam que se regateie , pechinche. Faz parte da venda negociar o preço. Se em dinheiro é mais barato do que com cartão de débito você só irá saber se negociar o preço da compra.

6. Não desperdiçar.

Lavar o carro com balde economiza água, certo? Há muito mais acertos no nosso dia-a-dia se formos controlados com os gastos. Economizaremos nosso dinheiro e mantemos o planeta para próximas gerações.

7. Ir a compras somente aos domingos, quando quase tudo está fechado.

O politicamente do mandamento anterior cai por terra com este agora. É radical, mas domingo tem poucas opções de compras. Quem sabe seja a sua saída para não gastar demais?

8. Valorizar cada centavo.

Sabe aquela caixa de mercado que “fica lhe devendo” um centavo? Ela está cometendo um crime! Apropriação indébita. Se você não aprender a valorizar seus centavos, não irá valorizar seus milhões.

9. Analisar o custo/benefício.

Esse serve para tudo. Desde uma relação até o dinheiro! Serve para responder quem acha que pão-duro compra o barato pelo barato. Não! Analise o custo/benefício antes. Aliás, analise até o custo/benefício de ser controlado com os gastos. Se lhe der dor de cabeça maior do que ficar no vermelho, gaste à vontade!

10. Emprestar sempre com juros. Jurar é pecado. Cobrar juros, não!

Não me peça dinheiro emprestado! Tem bancos e financeiras mais bem preparados que eu. E com juros bem maiores…

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 04/09/2010
Código do texto: T2477483
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