AMOR DE TRAVESSEIRO

AMOR DE TRAVESSEIRO

Dizem que os idosos adquirem sabedoria. Creio, como idoso de mais de 84 anos, que há idosos que adquirem sabedoria por serem observadores dos acontecimentos no decorrer da existência e há outros que só adquirem experiências.

Sinceramente, sem querer me exaltar, mas com as relações de amizade pessoal e virtual sou incluído por elas no rol dos idosos de sabedoria, porém não sábios, costumo observar os fatos da vida. Estou certo que essa visão ecumênica de minha personalidade não é por respeito à minha idade porque desde meia idade fui considerado um homem ponderado, com uma visão harmoniosa para a sociedade, estribada dentro de uma experiência da compreensão de que a felicidade deve ser fomentada de dentro pra fora e não de fora pra dentro, ou seja, se deve ter o amor caridade com epicentro de uma vida. Talvez alguns desconheçam até o que é amor caridade. Explico: É o amor que doa e não o que pede, diferentemente do amor paixão que pede mais do que dar e exige exclusividade e às vezes, sequer retribuí-la, a ponto de poder se classificá-lo em duas categorias: Se ama por sexo e se faz sexo por amor, sendo este ultimo que também ao longo de minhas observações sobre coisas importantes que não damos importâncias, descobri que há uma outra imperceptível categoria de amor que eu classifico de Amor Travesseiro, escrito de propósito em com inicial maiúscula, por sinal, muito comum em casais que se dizem amar e serem felizes no casamento.

Para os que ainda não alcançaram o que é Amor Travesseiro, explico sinteticamente: Os casais depois do primeiro período geológico que verdadeiramente é traduzido pelo numero cabalístico 7. (abro um parêntese. Não se deve tomar o tempo do calendário divino com o do homem, daí os 7 anos não serem, explicitamente o 7 anos do nosso calendário) Continuemos: Depois desse primeiro período a relação de “sexo por amor” vai começando a esfriar, porque o período classificado como lua de mel já começou a fenecer depois dos três anos, com ou não chegada dos filhos então o casal inicia paulatinamente a fase do “Amor Travesseiro” como figurativamente classifico, que tem a peculiaridade seguinte: O nosso travesseiro é um objeto do nosso carinho, do nosso aconchego, é nosso confidente, acalenta nos sonhos quando o abraçamos no leito, parece-nos que é o único a quem confiamos nossos sentimentos bons e maus. Todavia, dormimos agarrado a ele, o cheiramos; tem gente que até conversa com ele, porém, depois de despertamos o “abandonamos figurativamente” indiferente sobre a cama e vamos cuidar de batalhar pela sobrevivência. Somente à noite, voltamos a ter contato com ele e novamente o abraçamos e confidenciamos, discutimos problemas e planejamos.

Eis como ficam os casais depois da multiplicação dos períodos de 7, 14, 21, 28... e sempre seqüenciando-se de 7 em 7 anos. Qualquer um pode observar que sua própria personalidade vai se alterando dos períodos de 7 anos.

Ambos se tornam e se tratam entre si como se fosse travesseiro. Se abraça, se aconchega, se cheira, discute, etc. etc. e sem querer e saber, passam a praticar o Amor Travesseiro. Cada um se vira para um lado e se agarra ao seu travesseiro para dormir e sonhar por paragens que dificilmente se remonta ao amor verdadeiro.

Entretanto há, dentro do episódio amoroso, uma irônica singularidade. O Amor Travesseiro pode se transformar esse amor em Travesso, os amores turbulentos, maliciosos e depois vai aos poucos abusando o seu “cheiro, os carinhos, começa a mudar de fronha” e o abandona por outro leito e novo Amor Travesseiro, o que se classifica como amor por sexo. Este amor é egoísta e soberbo, semelhante a labareda.

Depois de escrever sobre este assunto, num domingo, assistindo o programa do Faustão, quando numa seqüência ele interroga os convidados, casais de diversas idades e de diversos anos de casamento, assuntos íntimos:

- “Quantas vezes por mais vocês ralam e rolam?”

Homem ou mulher interrogado, responde o número de vezes. Depois há a comparação.

Confesso que não me surpreendi com o desencontro das respostas. Todavia, no caso do programa, pode observar que os casais mais novos foram o que menos acertaram. Ora, ora, o amor da atualidade não tem a estrutura do de ontem. Hoje quando se oficializa a boda, o “ralo e rola” já não é novidade. Lua de Mel é uma satisfação à sociedade. Daí o breve surgimento do Amor de Travesseiro, principalmente quando se instala uma TV na alcova.

Iran Di Valencia
Enviado por Iran Di Valencia em 04/09/2010
Código do texto: T2477554