SETE É CONTA DE MENTIROSO

Não tenho ilusão de que alguém acredite em mim. Todavia, isto não faz a menor diferença para a estória! Concordamos todos que o quadro mais conhecido no Brasil é o de Pedro Américo - Grito do Ipiranga –, exposto no museu de mesmo nome, em são Paulo. Alguns críticos botam um punhado de ‘defeitos’ na patriótica tela! Dizem que os Dragões da Independência (guarda de honra do então Príncipe e futuro Imperador) não eram tantos ou vestiam fardas de gala; que montavam uns pangarés, mortos de cansaço haja visto acabarem de subir a serra, vindos da praiana Santos.

Implicam com o fogoso corcel de Dom Pedro: quando é conhecida sua preferência por viajar montado nas bestas ou mulas, de andadura mais macia. Criticam o pintor, também, por aquele carro de boi! Seria o povão à margem dos acontecimentos políticos. O ranchinho, na tela, estaria do lado contrário. A comitiva encontrava-se numa baixada, não sobre a colina. Até o rio, que no hino nacional ganhou “margens plácidas”... Gente, eu fui lá! Aquilo não é rio nem aqui nem no Paraguai! Quando muito um rego d’água, um corguinho!

Não dá pra ver direito, mas que todos saibam: havendo abusado de carnes ao nível do mar, cá no alto da serra Sua Alteza padecia se uma diarréia terrível (para plebeu se chama caganeira!). A dor de barriga era tamanha que, voltando de detrás das bananeiras igualmente mostradas na pintura, ordenou ao padre Belchior a leitura em voz alta das tais correspondências da Corte, reclamando sua ida para Lisboa. Nervoso ante tantos desarranjos, o Príncipe mandou os patrícios à puta que os pariu, tomou os papéis, pisoteou, e novamente correu para atrás das 'árvores que alimentam macacos'... Então, deu o grito!

O Padre Belchior é aquele cidadão que no quadro de Pedro Américo monta um belo cavalo baio e aparece agitando o chapéu - aos morras e vivas -, logo atrás do Senhor de Bragança e Bourbon; este de espada erguida! E aqui, sim, faço um reparo ao pintor: na verdade o Príncipe montava uma bestinha, pertencente ao padre, e que veio a morrer de velhice nos pastos da Fazenda Piraquara, nesta freguesia de Nossa Senhora do Bom Despacho.

Belchior Pinheiro de Oliveira, ao lado dos irmãos Andrada, foi um dos mentores da Independência. Contudo, sua pessoa e atuação foram boicotadas pelos historiadores oficiais! Já ordenado, estudou em Coimbra, bacharelando-se em Direito. No seu regresso ao “Patropi” trouxe ideias políticas avançadas, fezendo-se conselheiro e confessor do jovem Príncipe... Pra quê confissão, se até dona Leopoldina sabia das aventuras em alcova, arranjadas pelo escudeiro Chalaça?

Vigário da vizinha vila do Pitangui - quando suas minas de ouro bancavam a Coroa -, após a Independência e convocação da Assembléia Constituinte (para redigir a primeira Constituição do país) foi eleito deputado. Não tardou, com os irmãos Andrada, acusado por Dom Pedro de armar-lhe siladas constitucionais, exilou-se na França. Belo país onde se viver, inda mais que o grupo baixou de mala e cuia nos arrabaldes de um burgo cujo nome lembra bordel...

Tou acabando a lição, pessoal. Lá, o padre engraçou-se com certa mulher, e seis anos depois, ao retornar do exílio, trouxe ele uma filha – Júlia – apresentada como sobrinha do Bonifácio (faz bem!). Transcorrida a menarca ela foi dada em casamento ao fazendeiro José Antônio da Silva Cardoso – O Major da Piraquara. Assim teve início a extensa prole dos Cardoso, em Bom Despacho. Alguém se lembra da besta no pasto?...

dilermando cardoso
Enviado por dilermando cardoso em 05/09/2010
Reeditado em 24/02/2011
Código do texto: T2478982