Será que eu morri?

- Olha só! Eu não quero mais discutir Margarete, Fernanda desta vez passou dos limites! - E além do mais tenho que ir trabalhar certo! Assim, dá teu jeito, afinal, ela é nossa filha: Ou voce esqueceu este pequeno detalhe?

- Não Agenor! -Não! Não esqueci amor! - Vou tranqüilo, eu vou resolver este problema hoje de qualquer maneira!

- Te amo meu amor!

- Eu também. Cuide-se tá! - Voce também, beijos!

- Para voce!

Pode parecer ironia, mais foi assim que começou o dia mais louco da vida de Agenor

e Margarete.

Estava ensolarado, o céu límpido, o azul ofuscava a beleza com a própria beleza, o cheiro da brisa do mar era convidativo, mas, o problema do casal com a filha de 19 anos consumia as horas disponíveis que poderiam ser usadas para o lazer em família.

Embora, tratando-se de uma quinta-feira, Agenor sabia bem como controlar seu patrão e ganhar certas regalias.

Mas esta quinta-feira era diferente, existia um presságio indecifrável no ar. Margarete havia passado a noite angustiada, não posso dizer sem razão, pois Fernanda atravessava uma fase caótica, isto fazia a vida do casal um eterno desassossego.

Agenor desceu para garagem, no elevador, falava consigo mesmo, questionava o comportamento da filha e a carga de culpa que a consciência o cobrava indevidamente ao seu modo de ver. Analisar os fatos causava-lhe uma dor profunda. Porém, tudo haveria de ser resolvido, de uma forma ou de outra.

Mas, a vida prepara arapucas tão seguras que quando damos conta, estamos aprisionados sem saber como e muito menos porque, justo que na maioria das vezes uma coisa nada tem haver com outra. Isto é o que verdadeiramente imaginamos, ou tomamos como retórica de viver.

Agenor entrou no carro, colocou-o há funcionar e em seguida partiu para o trabalho, haveria uma reunião daquelas tenebrosas antes do almoço. Ele não ligou a mínima, já estava acostumado com estes extras e sabia que tudo seria equacionado com há simplicidade de sempre. Diga-se de passagem, uma rotina que causava certo desgaste mental, tanta coisa para coisa nenhuma, sim porque, era uma tempestade em um copo de água. A questão em si resumia-se, mostrar serviço. No caminho, Agenor viajava mentalmente em seu problema maior, Fernanda, isto justo e posto levou-o a distração, e foi o momento fatal. O carro de Agenor foi abalroado lateralmente, do lado esquerdo. Tudo apagou.

Agenor quando deu por si estava na reunião, via-se sentado ao lado esquerdo do patrão o que era praxe, só que desta, ninguém ouvia o que ele falava. Parecia não existir, sentia-se invisível.

Curiosamente andava para todos os lugares que desejava, não havia mudanças, só não era visto por ninguém e nem respeitado, nem ele e nem suas opiniões. Mas, levou o dia como normal, mas sabia não estar.

Quando veio à tarde, ligou para Margarete e ouviu sua voz dizer que estava tudo bem, porém quando chegasse, ele deveria ter uma conversa mais detalhada com a filha. Agenor desconfiou que algo estivesse errado.

Como ouviu Margarete? Ela o ouviu e no trabalho ninguém notava-o, nem ao menos dava-lhe atenção? Disse então á esposa que ficasse tranqüila que tudo iria dar certo. Assim despediram-se amorosamente, como se nada houvesse acontecido. A noite aproximava-se com certa velocidade, angustiado, Agenor foi à garagem da empresa para entrar em seu carro e retornar à sua residência como de costume. Quão sua surpresa ao não encontrar o veículo. Foi até o garagista que não lhe deu a mínima atenção. Agenor esbravejava de ódio e não era ouvido. Ligou para á polícia! Foi atendido com cordialidade. Logo uma viatura chegou ao local. Porém, não visualizavam

Agenor.

O garagista perguntou se os policiais estavam enlouquecidos ou drogados, pois ele não viu Agenor o dia todo e nem ao menos o carro entrou na garagem da empresa, isso ele poderia jurar. Por sua vez, os policiais suspeitaram que o garagista estivesse envolvido com algum tipo de crime, seqüestro ou coisa parecida.

Começaram a argüir o pobre homem que na verdade nada sabia. Simplesmente ele falava a verdade. Isso deixou Agenor possesso.

Ele queria agredir os policiais, pois falava com eles e os mesmos não davam a mínima para o reclamante. Com isso, a situação foi criando um volume insuportável para o pobre Agenor.

O celular tocou e todos olharam. Mas, eles não enxergavam ninguém, nada, coisa nenhuma. Os policiais pediram reforços e iniciaram uma busca inútil. Foi quando um policial pediu a placa do veículo e se possível uma foto do camarada.

Neste momento, Agenor passou a não mais ouvir nada. É como se o mundo houvesse emudecido para ele. Veio uma vaga lembrança do momento em que saiu da sua garagem com o carro em direção ao trabalho. Seu corpo todo tremeu! Deu um grito que até no Olimpo se fez o ecoar, o próprio Zeus sentiu-se assustado.

Quando a foto, o numero da placa do veículo chegou às mãos do policial, curiosamente a foto estava sem rosto, mas, ainda sim a placa do veículo denunciava o acidente fatal com Agenor. Não dava para entender, o policial andava de um lado para o outro sem respostas.

Já no escritório da empresa, conseguiu falar com Margarete que encontrava-se naquele exato momento desesperada, acabara de receber á noticia e foi convidada a fazer o reconhecimento do corpo. Diga-se de passagem, do pouco que restou. O policial pediu que tivesse força e coragem, pois só assim resolveria o problema e os restos mortais de Agenor seria sepultado.

Assim foi feito e Agenor presenciou à tudo. Estava inconformado, tentava falar com as pessoas, ele não acreditava no que presenciou. Havia muito à fazer. Pensava no futuro de sua filha amada.

Nos problemas com a relação amorosa da menina. Como iria ser o futuro? Como ela pagaria a faculdade? Como viver sem o amar carnal de Margarete? Será que sobreviveria assistindo-a dormir e fazer amor com outro homem? Imaginou outro chefe de família em seu lugar!

Sei que é difícil de entender. Não acredito de forma alguma nesta premissa. Mas, há de se pensar. Creio e tenho quase absoluta certeza que isto não é uma regra. Somos uma energia e ponto.

Quando morremos, tudo apaga, não vemos, ouvimos ou sentimos nada. O que vivemos no momento final é um resumo de tudo que vivemos e em seguida tudo se apaga. Quando renascemos, só temos consciência quando começamos a raciocinar, quando chegamos a idade de sabermos que existimos.

Será que eu morri?

O Bruxo

Carlos Sant’Anna

Bruxo das Letras
Enviado por Bruxo das Letras em 05/09/2010
Código do texto: T2479268
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