DESCAMINHOS

Ali, naquele leito de hospital, ofegante e pálida, cumpria sua parte. Recebera o dom da vida gratuitamente, sob a condição de vivê-la bem.

Mas o que era viver? Em sua cabecinha louca e desorientada, existir era sinônimo do prazer que encontrava nas baladas, festas e "curtições".

De nada adiantavam conselhos, advertências, apelos. A única coisa que contava era a opinião da "galera", que não opinava nunca.

E começou a andar em "tribos", assimilando seus valores, vestimentas, modos de andar e comer.

Experimentou um cigarro, porque dava "status", tomou uma cervejinha, porque "não subia", perdeu sua virgindade com o cara que "ficara", porque estava fora de moda ser virgem.

E, agora, estava ali, sem saber como tudo começou. Se, por raiva da mãe que nunca estava em casa, ou pela falta do pai sempre viajando, ou pelo convite de uma amiga considerada "avançada", ou por culpa própria, por não ter ouvido os conselhos recebidos.

Longas eram as noites e, para seu conforto, a família passava reunida. A mãe encontrara tempo para estar com ela e assisti-la em sua doença. O pai cancelara as viagens e, todas as noites, a visitava no hospital. As amigas de balada? Estas, vez em quando aparecia alguma por lá.

O "ficante"? Aquele que realmente a colocara no hospital? Encontrava-se internado em uma unidade qualquer, em estado terminal.

O fato é que também ela era vítima da AIDS, e de seu modo inconseqüente de viver.

Recebera o dom da vida gratuitamente, sob a condição de vivê-la bem e não o fizera.

Agora ali, naquele leito de hospital, ofegante e pálida, cumpria sua parte.

Rosemarie Rossi
Enviado por Rosemarie Rossi em 24/09/2006
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