A piscina!

Contrariado, Peri resolveu acatar um desejo antigo da sua mulher, D. Clorela, toda extravagante e que sonhava construir uma piscina no quintal de casa. Ouvira durante os últimos seis meses que uma piscina em casa seria bom. “Bom, para o que?” – Dizia ele.

- Sei lá, só sei que é bom! – Respondia ela de maneira vaga.

E de tanto escutar este argumento vazio, mas que torrava a paciência de qualquer um, Peri decidiu adquirir uma. Foi a uma loja especializada e assustou-se com o valor, alto para as condições econômicas da família, mesmo assim a financiou em 36 meses, só pelo prazer de não ter que escutar o blá-blá-blá da sua esposa. Não ganhava mal, porém era algo que não cabia ao orçamento familiar, ainda mais com o nascimento do seu segundo filho. A obra, que segundo o vendedor, ficaria pronta em quinze dias, parecia transcorrer como o combinado. “Trará algum desconforto no início, mas coisa rápida, quando perceberem já acabou!” - Dizia o sagaz vendedor.

Estendeu-se por dois meses, e o sempre calmo Peri, já não suportava mais ver os dois funcionários responsáveis pela execução da obra, que sempre tinham alguma desculpa pronta. Na loja, os mesmos discursos de que “estavam solucionando o problema”. Os gastos que previra com antecedência, ultrapassavam e muito o valor que imaginara. A ansiedade da sua mulher que também não estava satisfeita com os serviços desenvolvidos, o deixava muito mais aborrecido (afinal a ideia da piscina era dela!!!). Não conseguia mais se concentrar no trabalho, nem na mulher, nem com os filhos, tudo era motivo para se irritar.

Quanto transtorno em sua vida aquela piscina estava causando. Sua casa, transformada em um canteiro de obras, só permanecia suja, mesmo com a boa vontade da empregada que não aguentou e pediu as contas. Com a sua piscina entregue. Não queria ver, nem pintados de ouro, os dois tranqueiras, e espalhou a má fama da loja por todo o condomínio. Só não conseguia disfarçar a alegria de vê-la pronta. Antes de convidar os familiares e colegas, resolveu ser o primeiro a estrear, já que o calor era convidativo para um bom banho. Saiu relaxado e até pensou que sua mulher realmente tinha razão, só pensou.

Nunca mais os seus finais de semana foram os mesmos. Já na quinta-feira, colegas e familiares, ligavam para confirmar a visita, que educadamente concordava. A despesa com a manutenção somada as parcelas que venciam todo o dia 15 de cada mês, fez o orçamento estourar, e o bem estar familiar diminuir. Alguns prazeres que se dava, tiveram que ser cortados, o aniversário de um ano do filho foi feito com a corda no pescoço e os mimos que gostava de dar a mulher agora eram raros.

Cansado, Peri não tinha outra alternativa, mantinha a piscina para os folgados e para agradar a sua esposa ou a enterrava (a piscina, por favor!) e voltava a ter o sossego de antes. Sua mulher não queria nem ouvir falar em enterrar a piscina. Foram quase seis meses de ásperas discussões, onde sempre acabava com a esposa o mandando dormir no sofá. No trabalho, a sempre simpática e bonita Marilu, percebia na fisionomia do seu colega de sala o esgotamento que aquela piscina lhe trouxera, já que o caso era ciência de todos.

Como trabalhavam juntos há um bom tempo, tinham certa intimidade, e ele desabafava toda a sua tensão, os seus conflitos, suas dívidas e suas angústias com a D. Clorela, que eram ouvidas por Marilu com muita atenção. Começou a chegar tarde a casa, do trabalho estendia, junto com a sua colega, até um barzinho para beber um chope e assim diminuir o estresse, sua esposa que desconfiava e não tinha mais controle da situação, o investigava com perguntas e mais perguntas.

Um dia ao acordar, Clorela encontrou um bilhete com as letras do seu marido:

“Clorela, tudo ia muito bem, até aquela piscina entrar em nossas vidas, confesso que resisti muito antes de tomar esta decisão. Pode ficar tranquila, as despesas com os nossos filhos continuarei a pagar, mas já entrei na justiça pela guarda deles. Enquanto que a casa e principalmente a sua “piscina” poderão ficar para você, trabalho e logo, logo compro outra, para viver em paz com a Marilu, o meu novo amor. Não me cobre explicações, apenas não a amo mais, e agora tenho a Marilu como minha mulher, se vai dar certo? Sei lá, só sei que é bom!” Peri.

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 10/09/2010
Código do texto: T2489480
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