PARA PENSAR SOBRE O TEMPO

Hoje, amanheci pensando no tempo. Em meu pensar, percebi que o tempo, é de fato, o responsável por tudo que sonhamos, queremos, passamos e, sobretudo, lamentamos.

Do pensar para lembrar, nós percebemos que o tempo passou e, muita das vezes, nós não nos demos conta de suas minudências, apenas registramos os longos anos vividos, sem nos importarmos com o cabelo que caiu e/ou embranqueceu, a pele que perdeu a sua elasticidade, as rugas que apareceram, o olhar que se perdeu no tempo sem ver para onde olhou, o corpo que já não mais responde aos estímulos externos, enfim, o tempo é, nesses casos, um sinal claro de que a vida vivida passou, sendo aproveitada ou não.

O tempo também é responsável pelas regras do nosso cotidiano. Hoje em dia, mais do que nunca, ele determina o que devemos fazer, a que horas, por quanto tempo e, quase nunca, sem atrasos. É a pressa em ganhar tempo, mesmo sabendo que o tempo não para, nem espera por quem não costuma acompanhá-lo. Nestes casos, adaptar-se ao tempo, sem querer correr contra ele, é, ainda, a melhor solução para se ganhar tempo.

O tempo também é o benfeitor da natureza. Quando fazemos o mal a ela – a natureza –, com queimadas, assoreamento dos leitos e o desmatamento das margens dos rios, e poluímos suas águas com metais pesados, além de devastarmos suas florestas, o tempo se encarrega de estancar o sangue derramado e procura, a longo prazo, devolver à natureza o que, de graça, ela, mesmo estando ofendida por tanta desobediência, descaso e ambição, vai e oferece, de novo, ao bicho homem. É preciso pensar sobre a velocidade de destruição, pelo homem, daquilo que a natureza levou milhões de anos para construir, assim como, a velocidade do tempo da natureza: a biodiversidade de uma região, mais a chuva, as sementes, a ação dos animais – levando e trazendo a vida –, sem correr para apressar o tempo, não são páreos para as ferramentas, os maquinários e as tecnologias usadas pelo homem, para ganhar tempo.

Talvez, em termos de tempo, o melhor tempo é o tempo que nos faz esquecer as feridas de amor. Sim, ele é pródigo nisso. Cabe a ele – quando não há mais alternativas para se esquecer um grande amor – a tarefa de sarar todas as feridas deixadas pelo sofrimento de uma paixão. Sabiamente, ele deixa passar os dias, os meses e, até, os anos para agir em nossa defesa. Ele sabe que amores vêm e vão, mas que, quando vão, deixam uma grande ferida aberta em nossos corações. Por isso, o tempo evita de procurar remédios milagrosos, sensacionalistas. No seu tempo, sem que se perceba, as cicatrizes tomam o lugar das feridas e o amor até volta a habitar, por outro período de tempo, aquele mesmo coração que foi despedaçado um dia.

Por isso que eu amanheci pensando no tempo. Deu-me uma vontade danada de pensar no meu tempo. Lembrei-me do meu tempo de menino. Segundo a música, tempo que não volta mais, no qual éramos felizes e não sabíamos. Dos tempos de caminhada para levar o gado para comer e, depois dar de beber, só restam as lembranças – algumas boas, outras ruins – de quem via, pela frente, um horizonte cheio de sonhos a serem realizados; dos tempos em que estudar equivalia a um pequeno sacrifício diário, a lição de que na vida tudo que é conseguido com suor, dor e muita determinação, é preservado na construção de uma cidadania plena; das lembranças de uma adolescência marcada por altos e baixos, a certeza de que o tempo soube ensinar a caminhar por trilhas sinuosas sem nunca ter que desviar-se dos bons conselhos.

Assim, ao levantar-me para mais um dia de labuta, a certeza de que o tempo foi pai e não padrasto para mim. Deu-me as coisas materiais de que preciso; fez-me orgulhoso por concretizar alguns sonhos e desejos – tanto pessoais como profissionais–, deu-me saúde, paz de espírito e muita disposição para transmitir, para os meus discípulos, aquilo que chamamos de conhecimento, além de dotar-me, com o passar do tempo, de perseverança, paciência e humildade.

Mas, nem só de coisas boas o tempo se orgulha de registrar. Ele, por exemplo, é obrigado a anotar, no seu transcorrer, a capacidade humana de destruir e de autodestruir-se. A História tem o privilégio de escrever, para o tempo, o que os períodos dos tempos fizeram de lá – desde os primórdios – até os dias atuais. Nestes casos, o tempo dá a sua contribuição para que os homens repensem suas ações e procurem, nos erros do passado, lições para não voltarem a cair em erros no presente.

Por fim, ele, o tempo, carrega consigo o tempo de nossas vidas e, a cada ano que passamos atrelados a ele, mais ele nos aproxima daquilo que chamamos fim da vida. É a certeza de que, para todos, o tempo apenas oferece uma viagem – confortável ou não – para que possamos desfrutar do tempo necessário para deixarmos o nosso nome marcado para a história do tempo.

Na saída de casa, me lembrei do último parágrafo. Sorri, pensando o quanto somos efêmeros em nosso pensar. Tantas coisas para lembrar sobre o tempo e só lembramos daquilo que nos afeta, sem querer dividir o pensar, sobre o que nos afeta, a partir de uma coletividade.

 


Obs. Imagem da internet


Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 12/09/2010
Reeditado em 07/12/2011
Código do texto: T2493078
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