CISSA

CISSA

Morava em quixabeira, município de Barra de Tarrachil - BA, vivia com sua mãe Lindalva e mais alguns tantos irmãos, tinha uma boa educação do lar, fora criada para ser uma excelente dona de casa. Esperava-se que encontrasse um príncipe encantado, que pedisse sua linda mãozinha em casamento. Muitos rapazes, tímidos, costumavam olhá-la quando de costas e se deliciavam, vendo as suas suaves curvas e busto escultural. Sua cintura de pilão pernas que pareciam torneadas. Os longos cabelos sedosos pareciam tratados por cabelereiro especial. O balancear ondulando do seu quadril firme, estonteava qualquer mortal que contemplasse.

Porém o seu rostinho não fora privilegiado pelos deuses, motivo pelo qual estava quase caindo no caritó. Entretanto, muitas outras qualidades lhe fazia se destacar das demais. Era uma moça honesta , sincera e respeitável, habilidosa, carinhosa e prendada.

Um dia apareceu Zé do bigode, apelido que deram exímio pescador Augusto, homem querido de todos e honesto, sabia tudo sobre pescaria, parecia chamar os peixes pelo seu nome. Chamava atenção seu bigode muito bem aparado, muito bem cuidado chegando a ser comparado com o bigode do Zorro. Certa feita pegou muitos peixes, e separou uma pequena piaba colocando-a num vidro levou-de presente para Cissa. Foi grande sua alegria, seu sonho parecia pois, começado a se tornar realidade. Nunca antes havia recebido algum presente de alguém, enfim poderia ser um possível pretendente. Guardou aquela piabinha e lhe trocava sempre a sua água.

Zé do bigode sempre perguntava pela piabinha, talvez usando-a como pretexto para começar conversa séria, pois ambos eram muito tímidos.

_ Oi Cissa como está a sua piabinha?

Ela dizia:

_ Está linda Zé, vou pegá-la para você ver.

Ele segurava aquele vidro com piaba e dizia:

_ vou te comer, vou te comer, vou te comer.

E ela dava boas risadas e dizia:

_ está bem Zé; vou guardar minha piabinha só pra você comer.

Ambos ria bastante e depois...

No dia seguinte olha ele lá outra vez. E assim foi se repetindo, se repetindo, se repetindo.

Até que um dia ele trouxe-lhe outro presentinho, enrolada em um pedacinho de folha de bananeira uma linda caixa de jatobá, e sua semente plantou na terra fértil de seu coração. Dessa vez pediu segredo, era o início do compromisso dos dois.

Nem se deram conta, gostavam cada vez mais de se verem. Todo entardecer ela ficava na varanda aguardando a vinda do pescador.

Quando ele aproximava ia logo perguntando:

__ e sua piaba com está?

Ao que ela respondia:

__ Está crescendo Zé, só para você comer!

E ele todo satisfeito sorria e abaixava as vistas e lá se ia com a sua tarrafa e seus anzóis.

A mãe de Cissa de sorreifa observava tudo e ficava feliz. Entretanto se perguntava:

__quando será que ele irá pedir a mão de minha filha em casamento!

E o tempo foi passando até ele falou para Cissa dizer pra seus pais que ele queria noivar oficialmente.

Promoveram uma reunião familiar,mas chamaram até os vizinhos mais chegados que compareceram. Todos ficaram muito felizes,gostavam muito da mocinha e tinham admiração pelo bom rapaz.

Ele comprou para esse dia, um paletó xadrez de três botões e as três da tarde aproximou-se da casa dela. Ainda de longe já a avistava na janela com uma linda flor de girassol presa aos lindos cabelos. Ele foi recebido pelo pai e a mãe da moça com alegria. Os presentes se alegraram e estavam ansiosos.

O pai para quebrar aquele clima dizia:

_ esta minha filha é prendada, faz um cuscuz como ninguém. E ovo então, ela entende, ela sabe mexer nos ovos e faz um mexido de dar água na boca. Depois que o cristão come amolece, isso deixa qualquer um, doido para voltar para casa.

Zé do bigode se levanta devagarinho como todo bom pescador, evitando barulho e no silêncio que se instalou e chama:

_Cissa vem cá!

Cissa então caminha em sua direção e pergunta baixinho bem ao pé do ouvido, algo que somente os dois sabiam. Ela sorrir discretamente e responde baixinho, porém dando para ser ouvida pelos presentes que não entenderam nada.

_ nasceu Zé! É a coisa mais linda.

_ você trás consigo?

_ trago,sim Zé!

E passou sutilmente algo para ele a caixinha de jatobá que enfiou no bolso de seu paletó e ninguém viu.

Os dois, lado a lado parados no meio da sala se olhavam e riam, nada falavam pareciam está em outro mundo.No silêncio daquele ambiente quase se escutava o Tum,Tum,Tum, de seus corações.

Até alguém diz:

_ vamos logo oh Zé Bigode, pega essas alianças enfia no dedo da moça e pede-a em casamento de uma vez , homem!

Eles pareciam nem ouvir, de repente um sabiá e pousou na janela carregando pedaço de folha de jatobá. Então como se tivesse acordando de um lindo sonho, enfia sua mão outra vez no bolso do paletó e retira a caixinha de jatobá. Mostra para todos a semente germinada e assim selando seu compromisso de noivado com Cissa.

E os dias foram passando, ainda Zé Bigode todos os dias quando a encontrava pergutava:

_ e a sua piabinha como está? vou comê-la! vou comê-la!vou comê-la!

E Cissa dava boas rizadas e dizia:

_ estou guardando minha piabinha só para você.

Em uma noite de São João que o dia do pescador, eles estavam lindos com roupas coloridas pularam a fogueira pra lá e pra cá, comeram a piabinha depois foram até a capelinha da cidade de Belém de São Francisco seguidos de uma pequena aglomeração que cantava “Asa Branca” de Luiz Gonzaga e na madrugada a luz da tapera se apagou. Na manhã seguinte lá se ia ele mais uma vez com sua tarrafa e seus anzóis.

NATINHO SILVA
Enviado por NATINHO SILVA em 12/09/2010
Reeditado em 24/09/2011
Código do texto: T2493544
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