Envelhecer - Parte II

Envelhecer também produz belas cenas, grandes emoções, largos sorrisos, algumas boas lágrimas e muitas gargalhadas. A gente caminha entre transformações, tropeça em substituições mas não pode negar que a tecnologia e as boas idéias dos homens nos aliviaram um bocado de muitos vexames. E a gente se rende a isso. Pra falar a verdade é impossível viver o que nos resta de vida sem alguns acessórios e substituições. Já dizia Luiza Brunet que "quem espera envelhecer sem nenhuma alteração no corpo, melhor se suicidar antes de chegar la então". Exageros à parte, a história é mais ou menos esta, aceitar o que acrescenta, lamentar o que se foi e ter sempre amigas por perto. Hoje contamos com acessórios modernos e outro dia me surpreendi com o que são capazes de fazer. Minha irmã entrou no quarto pra se vestir e saiu de lá uns dez quilos mais magra. Fiquei pensando que havia um alienígena la dentro que lhe sugara as gorduras. "Que nada", ela respondeu, "isto é o Dr. Hollywood"! Nada de plástica, era uma espécie de "macaquinho", comprimia tudo. Fiquei horrorizada por ainda não ter um destes, me senti a mais pobre das mulheres. Uma amiga passou por mim na rua e de imediato percebi-lhe os seios fartos, empinados, coisa de louco. Ela se apressou em contar que ganhara dois enchimentos de silicone para soutien e moldava os seios bastando apenas trocar a peça de acordo com a cor da blusa. É, ficou perfeito. Pensei nos meus e fiquei imaginando que maravilha! Agora já existe aquele "shortinho" para evitar transparências no vestido e assaduras entre as pernas que vai até o estômago. Eu não tenho problemas ali, mas a dificuldade para respirar é impressionante quando uso um destes. Tem a "cinta" que estica as costas e somem todas as indesejáveis gordurinhas, perfeito. Se a raiz dos cabelos começou a branquear justo no dia daquele evento e a gente não está com paciência pra retocar, existe a "caneta" de tinta na cor de nossos cabelos, basta traçar uns fios e some tudo por algumas horas. Fora o que sempre existiu mas a gente não tomava conhecimento porque não precisava. E mesmo algumas coisas já estarem em desuso, obsoletas, sempre há uma famigerada alma impiedosa pra nos lembrar(sabe-se la de onde ressuscitaram a coisa). Outro dia vendo minha desolação ao visualizar no espelho o volume extra na blusa logo abaixo do seio, minha filha largou-me a pérola " Usa uma estomagueira,mãe!" O que é isso? De onde ela tirou? Olha o lado negro da leitura excessiva. Dá nisso.

Então,saímos lindas e maravilhosas com nossos disfarces sem nos importarmos com o que irão dizer, até porque o que os olhos não veem a boca não critica. E eu nem vou comentar sobre os modernos sapatinhos flexíveis e que não incomodam os pés mais delicados. Foram feitos pra velhice, embora eu ainda não precise e no entanto tem muita gente jovem comprando. Pelo menos desta escapamos. O que eu queria mesmo era saber porque ainda não inventaram uma pílula contra velhice. Provavelmente porque é a fase mais maravilhosa pela qual passamos.

A parte mais saborosa se levarmos em conta que nada mais temos a temer ou consultar antes de agir. O momento de doar sem esperar reciprocidade e nos encantarmos com todo o tempo que temos para apreciar a vida sem precisar olhar o relógio. É a hora de valorizar o que somos porque o que temos não é mais necessário.

A não ser, claro, os benditos acessórios que nos libertam da clausura a que nos encerramos pela transformação do corpo.

Beijo aos amigos!

Dona Cris.

Cristiane Maria
Enviado por Cristiane Maria em 19/09/2010
Reeditado em 22/05/2015
Código do texto: T2506681
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