Síndrome do Meninão

Estive pensando se estamos criando uma nova síndrome. Já é sabido que a nova geração, por motivos vários que teríamos que escrever uma tese aqui, não mais respeita os direitos, não valoriza a vida, não entende sobre limites. Claro que não podemos generalizar, mas os problemas que se nos apresentam, no fundo, passam pelo desamor, desvalorização e desrespeito ao outro, falta de limites, medo de se ensinar através de um castigo.

Me pergunto: medo de quê?

Fui criada com muito amor, muito carinho, exemplos maravilhosos e alguns castigos. Estou aqui, crescida, amadurecida, profissional, mãe, esposa, avó, filha, cidadã. Mas o que estamos vivenciando?

Nossas crianças e jovens tomam como exemplo as figuras famosas e, principalmente, as televisivas, os jogadores de futebol, "os caras".

E o que fizeram com esse menino? Menino que vale mais de noventa milhões de reais. Vale? Esse valor é dado ao que ele é? Ao que ele tem? Ou ao que ele pode dar em troca. Ah, sim, é moeda de troca, ele nem se pertence, ele pode ser vendido, ele pode ser emprestado, ele pode ser trocado...mas será que esse adolescente ainda, sabe lidar com essa fama? Sabe lidar com o fato de ser um objeto de uso de um clube?

Bem, e aí aparece a nova síndrome...

O técnico que, quase como faziam os pais de antigamente, porque era considerado um paizão, quis castigar um mal comportamento. Colocou lá no "cantinho da disciplina" pelo tempo que ele achasse necessário. Penso que ele queria ensinar esse garoto a ser um homem, a crescer não só profissionalmente como pessoalmente. Mas o menino precisava de tempo para refletir, elaborar, se arrepender, mudar.

Mas não deram esse tempo a ele. Para quê? Por quê?

A palavra do paizão não é mais importante que a manha do menino mimado. O garoto sem limites, esse sim, é quem manda. E cria-se e solidifica-se cada vez mais a Síndrome do Meninão. Garotos mimados, sem limites, se achando os "todos poderosos" e assim seguem...pobres crianças...

A sociedade se esconde, se tranca em suas casas, se defende dessas crianças tão poderosas.

E nossas criancinhas seguem queimando, matando, mandando, brincando de serem adultos. E quem os ensina? Ensina o quê? Que a vida dá certo para os mais poderosos? Para os mais espertos? Que mundo é esse...

Nem o nome de um time, de uma instituição, seja ela qualquer se respeita mais, não precisa. Ali é o local de trabalho? E daí? Vai queimar o nome do time e desanimar uma torcida? E daí? O técnico vai se ver obrigado a se demitir? E daí? Nosso garoto continua lá e tirará quantos técnicos se colocarem a sua frente, porque ele "vale" muito, mesmo que esqueça todos os princípios, os limites, o respeito.

O técnico estará rapidamente em outro time, em outro cargo, em outro trabalho. Ele fez por onde, tem uma vida de experiências, não é tão famoso quanto nossa criança, apesar da idade que tem.

Meu medo é que esse adolescente, quando não interessar mais, quando for esquecido pelos seus times queridos, o que fará? Ele não sabe...não ensinaram...não o deixaram crescer. E assim vamos com tantos exemplos de jogadores famosos, de políticos, de artistas, na nova ordem do "se ele pode, eu também posso..."

Síndrome do Meninão, impunidade para uns, impunidade para todos.

Não, não é esse mundo que quero ou sonhei para meus filhos e meus netos. Mas acho que fiz tudo errado. Pois eu castiguei, eu tirei coisas importantes enquanto meditavam no erro, eu ensinava a pedir desculpas, a respeitar o próximo, a pedir um favor e agradecer. Será que eu deseduquei meus filhos para o mundo atual?

Meu pequeno menino, cuidado!

Veja quem quer mesmo o seu bem. Veja quem quer apenas usá-lo.

Difícil, não? É...não deixam você crescer, não importa o seu futuro nem de outros tantos meninos. Síndrome dos nosso tempos...

Que pena!

Que confiemos nas "maldades" e "castigos" que fizemos aos nossos filhos. Talvez nunca sofram dessa nova Síndrome.

Mariza Schröder
Enviado por Mariza Schröder em 22/09/2010
Reeditado em 04/11/2013
Código do texto: T2513553
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