O cochilo da ciência...

O cochilo da ciência...

O tempo cujo presente nos chega é fascinante, sobretudo no que diz respeito a sua multiplicidade de formas, quer seja pelas várias possibilidades de vivenciá-lo ou simplesmente pela sua beleza surreal, que por intermédio de sua modernidade nos alcança. Tudo é tão moderno... parece que estamos dentro de uma ficção, um artificialismo encantador que nos transporta para além dos limites ainda não imaginado. Assim sendo, como um rubi, que nos fascina pelo brilho vermelho de sua gema, assim também o tempo nos coloca em estado de encantamento, porém este encanto é singular, uma vez que ele esvai-se entre os dedos, tal qual da mesma forma a água também se esvai. Todavia, mais que a forma do tempo, o que nos fascina mesmo é a sua qualidade de eterno, e conquistar esta qualidade é se igualar a Deus. E a ciência vem trabalhando neste intuito. Só que na medida em que avança um passo para Deus, Deus acaba se afastando pelo menos dez passos em relação à ciência, ou seja, a fronteira do conhecimento parece ser inalcançável, apenas nos chegam de seu longínquo horizonte impressões, que semelhantes aos efeitos dos raios da aurora boreal acabam por impressionar de forma fascinante nossa visão, inspirando-nos quanto à possibilidade do “vir-a-ser”.

Assim a ciência caminha inspirada pela visão a priori de si mesma, trabalhando arduamente e sem descanso, porém, no seu esmiuçar investigativo acaba adentrando no conceito do “sagrado”. Regiões onde ciência se confunde com poesia, quando parece acabar o limite do campo da experiência empírica, entram em ação outras ferramentas mais apropriadas para o avanço nessas regiões extremas. A ciência se vale então de sua filosofia a fim de estruturar uma teoria que lhe possa servir de assento à sua experimentação. Mas, o ardor é ter que lidar com energias em suas formas mais puras e ao mesmo tempo tecer considerações lógicas quanto às suas naturezas. Imaginem com qual dificuldade não lida a ciência dentro da música produzida por uma sinfônica, tendo que separar a melodia da harmonia, os elementos constituintes dos acordes sonoros e identificar cada som individualmente, denotar sua natureza fundamental dentro da escala a que pertence, bem como as várias sucessões de harmônicos que surgem dentro do espectro das freqüências, a maneira como o som expande-se pelas faixas do infra-som e do ultra-som para se perder da audição e, depois retornar como impressão de densidade que vai dar a ele qualidade de timbre (cor do som). Sem falar da métrica rítmica dos compassos, do surgimento de algumas funções trigonométricas em seqüência à fuga e ao contraponto, dando ao ritmo o balanço especial singular da síncope, as várias formas de composição rítmica, que como as estrelas, em número muito grande, permitem quase que infinitas possibilidades de arranjos quanto à forma de observá-las, algo semelhante às várias possibilidades ditada pela análise combinatória dos elementos de um conjunto gigantesco. Será que em momento algum a ciência não deixa escapar a explicação para simplesmente ouvir a musica? Afinal diante do grande oceano de conhecimento, estupendo e maravilhoso – onde em última análise ela se reconhece, pelo menos em tese -, será que a ciência também não busca recantos para descansar ou dormir, e daí sonhar com a perfeição? Porém é no cochilo da ciência onde a linha do tempo aproveita para embaralhar o jogo e se distanciar de sua análise cognitiva.

Ohhdin
Enviado por Ohhdin em 23/09/2010
Reeditado em 23/09/2010
Código do texto: T2514996