OS DONOS DO MUNDO

Quem não sabe de uma história de injustiça onde o réu foi livrado da pena por influência de seu poder e dinheiro? Foi preso e depois foi solto rapidinho? Ou sequer foi preso mesmo com todas as provas evidenciadas?Ao final da leitura tenho uma proposta diferente de interatividade. Quem quiser comentar com exemplos, será muito bem vindo.

P.S: Maluf não vale. Ele já foi transubstanciado para a condição de felino. Tem sete vidas e não perdeu ainda nem a primeira no round com a lei.

OS DONOS DO MUNDO

Eu fiquei matutando até o pito acabar todinho no canto da boca. Esta expressão é de mineiro quando está pensativo demais. Custei a encontrar um título para este texto, como demoro a deixar de insistir que há possibilidade de equilíbrio da justiça, a despeito de uns terem muito dinheiro e outros terem pouco. Uns representarem muita coisa simbólica, gloriosa e heróica e tudo isso ultrapassar os limites que o poder deles emana, sabedores que todos somos que as ditas leis são para tornar todos iguais. Mas me acho um tolo idealista, renitente, um babaca, afinal, metido a querer uma boa medida para as coisas.

Um exemplo que vou dar vem do futebol. Podia ser do mercado financeiro, dos industriais, dos grandes latifundiários. Podia vir de um magistrado, de um parlamentar ou de um prefeito, governador ou presidente, todos com foro privilegiado Mas estes não servem porque já criaram eles mesmos a sua superioridade com os tais foros. Poderia citar um astro da tv ou do cinema, um famoso âncora de jornal, uma top model. Tanta gente famosa, endinheirada e poderosa que poderia citar mas o caso é de um rapazinho do futebol. Não é o goleiro do Flamengo, apesar de haver ainda muita gente gritando por sua inocência no caso em que se meteu. A bajulação submissa sempre presume inocência, tanto de quem bajula (que pode ser ingenuidade) quanto de quem é acusado, por ferir os princípios da superioridade presumida.

Eu falo é do Neymar, do Santos, 18 anos. Da noite para o dia, jogando um bolão, passou de um pobre garoto a estrela internacional. Num jogo, o técnico falou que o pênalti havido a favor de seu time deveria ser batido por outro jogador. Ele esperneou, esbravejou, insultou o técnico diante de todo mundo. Até ali, poderia entender-se como um episódio de “cabeça quente”. A rebeldia dele (naquele episódio) é mais do que justa. Própria da idade e do instante de emoção. Depois o técnico foi reclamar com a diretoria se não ia haver uma punição para o jogador pelo desrespeito. Descontaram 30% do seu salário e ficou um jogo sem jogar. O técnico queira dois jogos ou 15 dias. Final da história: o técnico foi demitido.

O incômodo é o que o dinheiro vem fazendo com as pessoas. Está se criando e reforçando o indesejável - que já estamos vivendo há tempos: para quem tem dinheiro e fama não há lei que seja eficiente, nem hierarquia que equilibre as quedas de braço quando há ilegalidade ou abuso. O poder econômico já foi mais disfarçado para mostrar quem é que manda. Agora não tem mais desfaçatez. E tem ainda um apoio popular e midiático que chega a dar medo. Esse sistema faz a gente se sentir cada vez mais insignificante humanamente. Tudo bem que haja consenso que devemos ser desiguais socialmente, já fui muito contra, hoje nem tanto por causa não do pensamento, mas da impotência. Então meu inconformismo fica restrito a escrever.

Não tenho medo da Dilma, nem do Serra nem do PSTU ou PSOL, tenho medo é do ilimitado poder que o dinheiro confere, acima e apesar de gente que rala, sua, acumula experiências e trabalho e é vilipendiado pelo poder da grana.

O dinheiro é ou não é o poder e a gente fica simulando, fingindo que acredita que existe justiça e se esforçando feito Sísifo para fazer com que ela equilibre aqueles dois pratos da balança? Hierarquia tem limites, ora, dirão os poderosos!

O Boris Casoy humilhou com seu pensamento de desprezo pelos pobres os garis em pleno ar para o país inteiro ouvir e o demitido foi o operador de áudio da TV. O Daniel Dantas, banqueiro, foi denunciado por muitas falcatruas e corrupção e o delegado foi desmoralizado, o juiz que ordenou a prisão foi desmoralizado, disseram que queriam aparecer. Tudo bem que quisessem, mas as denúncias não foram desmoralizadas até então. Ele falou que chegando ao Supremo Tribunal se livraria e foi assim mesmo que aconteceu. Ganhou habeas corpus rapidinho, rapidinho. Desviaram foi a atenção do caso para outro ponto O Fred, jogador do Fluminense disse que o médico do time era um incompetente e o médico foi demitido. Fred sabe jogar muita bola, mas de medicina ele não sabe nada. O que todos eles têm em comum? Dinheiro, status, poder, nesta ordem.

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 23/09/2010
Código do texto: T2515144
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