METRÔ

Costumo ir para o trabalho de metrô e sempre levo um livro para aproveitar os quinze minutos do percurso. Muitas vezes, no entanto, não consigo me concentrar porque as pessoas vão falando alto, contando particularidades de suas vidas, como se estivessem na sala de casa.

Entrei, sentei-me num dos bancos laterais e abri meu livro, mas foi impossível me concentrar. Duas senhoras, de aproximadamente oitenta anos, conversavam animadas.

Geralmente as conversas são sobre outras pessoas, como por exemplo maridos, filhos e noras.

Essas duas falavam das noras. Uma enaltecia as habilidades da sua. A minha nora é um amor de pessoa. Trabalha, estuda, cuida das crianças e da casa e trata o meu filho como se fosse eu.

Pensei - é mágica essa nora. O dia dela deve ter umas cento e cinqüenta horas para que ela possa fazer tudo isso. Será que tem tempo para se cuidar? Para fazer amor? Vai ver que dorme durante o ato.

A outra atacou – você deve botar as mãos pro céu. A minha é uma relaxada, a casa está sempre bagunçada, meu pobre filho fez um péssimo casamento. Imagina você que sábado, quando ele chegou do futebol, não tinha nem uma cervejinha gelada pra ele que tanto gosta. Comida não tinha, a pia tinha louça até o teto e ela tinha ido pra praia com as amigas e só chegou depois dele. É bem verdade que é ela quem paga as contas porque ele ainda não arranjou um emprego de que goste.

E aí, o que aconteceu?

Aí. minha filha, fudeu! Começaram a brigar e eu saí para não fazer parte dessa guerra.

A outra estremeceu, não sei se pelo verbo pronunciado ou porque relembrou os tempos em que o praticava com tanto ardor, quando ele tinha um outro significado.

Desse momento em diante ela não prestou mais atenção à conversa, ou melhor, às reclamações da amiga. Seus olhinhos brilhavam e aquele sorriso, que se desenhou nos seus lábios, era revelador. Ela devia estar relembrando os bons tempos da sua mocidade e lamentando não poder mais conjugar aquele verbo, não porque não tivesse desejo, mas porque o seu velho marido não se lembrava mais como conjugá-lo.

Edina Bravo

edina bravo
Enviado por edina bravo em 23/09/2010
Reeditado em 29/05/2013
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