NASCIMENTO DA SABIÁ

Hoje bateu asas e voou vencendo os limites do quintal.
Estávamos em vigília, desde o começo do mês passado, quando percebemos os primeiros sinais da formação do ninho nos galhos do limoeiro.
Graveto a graveto, a mãe foi dando a forma necessária para receber os três ovinhos, que cuidadosamente empurrava para baixo das asas, no aquecimento necessário.
Os sabiás precisam de treze dias para serem chocados.
A primeira tristeza.
Um ovo quebrado no chão.
Torcer para não ter chuvas fortes, os predadores não descobrirem, uma rolinha não se intrometer.
As danadas das rolinhas invadem ninhos alheios, jogam fora os ovos de outros pássaros e colocam os seus para serem chocados.
Numa das saídas da ave-mãe, conseguimos ver os dois ovinhos meio azulados.
Contagem regressiva dos dias: Dez, nove, oito...
Na data zero, ansiedade.
Será?
Acho que sim, pois a mãe voltou com comida na boca e ficava arisca quando passávamos por perto.
Numa dessas saídas, a curiosidade fez que tirássemos fotos do ninho.
Um dos ovos brotara.
Ele estava ali.
Pedacinho de ser vivo, indefeso.
A mãe nervosíssima grita para que fiquemos longe.
Como impedir a curiosidade diária?
Um biquinho esperando comida, a pelugem nascendo, um crescimento lento.
E a sabiá gritando do muro: Saiam daí!
Os afazeres do dia a dia na cidade, quase nos fazem esquecer que é ainda possível, no meio de tanto cimento e poluição, nascer uma sabiá num limoeiro de fundo de quintal.
Ontem, ele esticou o pescoço e ao tentar voar, caiu do ninho.
A mãe desesperada e ciosa conseguiu conduzi-lo para debaixo de um vaso.
Dia de aflição!
Haveria predadores urbanos?
Gatos?
Olhei dezenas de vezes para conferir se ele estava ali.
Acho que quase ouvi a mãe enciumada gritando: Sai daí, essa função é minha!
Hoje ele estava sobre o vaso.
Parecia esperar as últimas fotos.
Um salto para o muro.
Outro para o telhado do vizinho.
E afinal, arriscou o vôo definitivo para a liberdade.
A mãe, cuidadosa, ciente do cumprimento da missão determinada pela natureza, voou atrás.
Estava completo mais um ciclo da vida.
Será que virá me visitar?

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 24/09/2010
Reeditado em 24/09/2010
Código do texto: T2517470
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.