Festa em Santa Catarina

Setembro traz a suavidade da primavera, a beleza dos campos e a pureza das saudades. Como é maravilhoso perceber o coração pulsante com a alegria de ter vivido e transformado!

Santa Catarina se prepara para a manifestação mais intensa do que é viver, semear, abrir janelas para o mundo do possível e da esperança a partir do final de setembro. Começam as festas! E começa sempre no último final de semana do mês da primavera. A primeira colônia alemã do Estado, São Pedro de Alcântara, abre espaço para todas as outras festas – as festas de outubro... afinal, “outubro é festa em Santa Catarina, a alegria a todos contamina...”

E os alcantarenses têm todo o orgulho de se colocarem, de fazerem os seus desfiles com a participação de todos, destacando os mais idosos, que exibem a riqueza da cultura germânica, as tradições, os olhares saudosos e cheios de amor, com as roupas coloridas, ostentando flores e bordados. Na cabeça, sempre uma teara também florida. As crianças, algumas até rosadas, também se exibem com encantamento e ternura. Afinal, são tantos os preparativos... as conversas nas casas, nas escolas, e chega, triunfalmente, o dia do maior evento do ano!

O povoado nasceu em 1829 e os primeiros imigrantes foram provenientes de Bremem. Aportaram em Florianópolis, na época Nossa Senhora do Desterro, e foram seguindo em direção às terras doadas pelo governo do Imperador Pedro I. Terras pouco férteis que, dentro de pouco tempo, obrigaram os recém-chegados a procurar outros espaços.

E a história foi sendo tecida em meio a toda sorte de dificuldades, trabalho árduo e saudades, muitas saudades.

No primeiro centenário da imigração alemã foi construída a igreja matriz. Obra belíssima, com altar esculpido em madeira proveniente da Alemanha. A cúpula remete à basílica de São Pedro, dada a forma da sua edificação. Imagens várias de madeira talhada, está também ali presente, logo na entrada, à esquerda, uma réplica da Pietà, cheia de intensidade e símbolo de amor universal e indizível.

Na porta da Igreja, recebendo os fieis, uma homenagem ao mais ilustre catarinense descendente dos alemães: D. Paulo Evaristo Arns. A placa foi descerrada no sesquicentenário da chegada dos primeiros colonos, quando D. Paulo ainda era cardeal-arcebispo de São Paulo. Época da ditadura, contra o que ele tão bravamente lutou e criou mecanismos para salvar tantos daquele inferno inventado e, ao mesmo tempo, cultivar a certeza da vitória da vida sobre a morte.

Todas as vezes que vou até lá sinto uma vontade absoluta de passar as pontas dos dedos pela placa, sobre o nome de D. Paulo, como que querendo me aproximar, sentir a sua doce presença, sentir a doçura da sua alma. Sim, porque D. Paulo tem a alma perfumada. Perfume de esperança, de sonho, de crença e de uma interminável fé na vida.

E a festa com os seus desfiles ia prosseguindo... O primeiro carro da região, da família Koerich, todo enfeitado, orgulhosamente passava pelo meio da rua, provocando curiosidade dos visitantes. Os pequenos caminhões exibindo parte das colheitas, a cana – de –açúcar sendo moída, o pão sendo fatiado e entregue graciosamente aos visitantes, as bicicletas unidas umas às outras para um passeio divertido regado ao chopp gelado. Cada município de origem alemã se apresenta e faz o simpático convite para outras oktoberfestas: a festa do morango em Rancho Queimado, a Oktoberfest em Blumenau, a Fenarreco, em Brusque, a festa das flores em Joinville, a festa do queijo e mel em Angelina, a festa do colono em Anitápolis e assim vai...

Santa Catarina cheira a alegria, a trabalho, a cuidado, a uma eterna construção...

E eu ali, firme, como todos os anos, apreciando e deixando todas essas experiências fascinantes passarem pelo meu coração. E me emociono! Choro com lágrimas quentes e decididas por tanta felicidade que é viver em Santa Catarina...

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 28/09/2010
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