A vida não pode esperar

Principalmente quando é primavera... A vida grita alegando, sorridente, dizendo a que veio! E não adianta reclamar, blasfemar, se deprimir violentamente, chorar copiosamente: a vida vence!

O cheiro do jasmim, o manacá em flor, a borboleta que desfila colorida e passa à nossa frente nos avisam, suavemente, que tudo é passageiro e não é necessário se correr atrás do vento: o amor que, numa noite de agosto, de amarga surpresa, resolveu sair definitivamente do coração, provocou a dor mais lancinante do universo, o pior cheiro de abandono e de solidão de alma... o trabalho que exaure, o agir eticamente e jamais reconhecido, as noites maldormidas pelas dores nas pernas e nas costas pelas incontáveis horas em pé ao longo do dia, as aflições, os medos, as incertezas, sempre as contas exigentes a pagar... a primavera, com a vida em flor aberta e exuberante, vem avisar que tudo passa, as dores – principalmente as emocionais – deixam seqüelas, marcam presença no olhar que, aos poucos, vai esquecendo seu brilho, o rosto que vai assumindo feições mais rijas, o corpo que vai perdendo o requebrado, e tudo, tudo faz parte da existência. E essa existência, com dores acumuladas, precisa da certeza que a primavera traz. E a vida vem exalando a mais refinada poesia, sutil, mansa, elaborada e eterna.

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 02/10/2010
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