Cigarro de Palha

Os olhos observadores em,

“Cigarro de Palha”

Havíamos acabado de sair do inverno, a primavera se mostrava enamorada, com sua beleza característica. Têm se então o início das primeiras chuvas, algumas árvores floridas outras não. Pra completar escuta-se ao longe um majestoso larangeiro entoando seu canto majestral. É outra estação alegrando toda a natureza.

Nesse cenário deslumbrante, sentado a beira de uma rede, as horas perfaziam-se aproximadamente meados da tarde, o sol preguiçosamente ainda brilhava, longe do horizonte, os olhos observadores se depara com uma cena, que engrandece e desnude qualquer ser humano, por mais imortal que seja e que tem nas lembranças remoídas pelo tempo a volta de sua juventude.

Uma rede a balançar, sobre ela uma vida digna por direito, o vai e vem, entre uma balançada e outra, um pequeno cigarro de palha, faz-se majestoso por entre os dedos.

Valêncio seu pseudônimo os anos eram 1927 precisamente no dia em que se comemora uma data muito importante, um grito de coragem diz: “Independência ou Morte” o dia é 07 de setembro, por coincidência Valêncio nasce, presenteia a todos e segue sua vida.

Com a licença de toda sua família, os olhos observadores pede uma licencinha pra falar um pouco de Valêncio, homem aguerrido nas batalhas da vida, viveu uma época em que as guerras da era moderna fazia suas vitimas mundo afora, homens e homens se destruindo por nada.

Como a todo grande homem é dito, pelo popular comum, por trás dele uma grande mulher.

A divindade lhe agraciou com uma companheira fiel e batalhadora, juntos construíram uma vida conjugal que perdura já nos seus 60 anos, com essa graça, curtem o prazer de ouvir as palavras vô e vó, vôvô e vóvó, e graças à boa saúde, ouvirão essas pronuncias por três vezes serem ditas, com todo respeito e reverencia a eles.

Falar de Valêncio é dar uma volta pela história e com ele desvendar os mistérios das glórias dos grandes homens. Acompanhado por muitos anos, de um companheiro inseparável, que até nos dias atuais esta presente, ajudando a mascar os favos da vida, o pequeno “cigarro de palha”.

As pequenas mãos tremulam cansadas pela dura lida diária, mãos que foram responsáveis por ajudar a desbravar os campos gerais do nosso Brasil, já no alto de seus 83 anos de vida, Valêncio segura firme a pequena e fina palha, tendo imbuído em seu interior, uma pequenina quantidade de fumo, e tem de ser goiano dos bons, e por necessidade..., ira se decompor.

Nisso, os olhos observadores pegam a imaginar como são os passos, da vida de um homem, no decorrer da idade, ou no julgar das forças da juventude, quantas proezas são capazes de realizar. Ao bem ver, que, os desbravadores dos sertões, viviam numa época em que as leis eram ditadas na regra do “quem pode mais chora menos”, assim homens como Valêncio transformaram o que hoje chamamos progresso.

Mato Grosso do Sul, local de veras glórias por seus homens bravios e aguerridos, que Valêncio viveras suas maiores aventuras, travando lutas com feras selvagens, domesticando animais bravos, para ajudar na lida do campo.

Por alguns instantes, o silêncio é imposto por necessidade e superioridade, o ar fica fosco, um símbolo que se perfaz, é Valêncio que ancora numa mão, um pequenino cigarro de palha, na outra um velho isqueiro, companheiro de horas precisas, fartas.

Uma mão se firma no isqueirinho azul, enquanto que a outra sustenta por entre os dedos, o cigarrinho, uma chama colorida e quente, vai ao encontro à ponta da palha, e logo esta em chama. No mesmo momento, os pulmões que tanto ar sobravam outrora, derrepente minguadinho, faz um tremendo esforço, o suficiente para dar vida aquela palha, a tirar dela uma boa tragada, daquelas de encher toda a face de fumaça, recobrindo os olhos, e manchar de amarelo o digno bigode.

Valêncio nem esta ai pra nada, também pra que se preocupar com tanta força, se ela agora ajuda a curtir um momento soberbo, relaxante, como numa sintonia harmônica, todos os órgãos agradecem aquela pitada gostosa e serena que chega a fechar os olhos de satisfação.

Ali parado a sua frente, os olhos observadores, pede passagem pro tempo, para curtir o cheiro gostoso da fumaça que aos poucos vai se desfazendo no ar. Um momento único, cintilante para os dois, um, vive recordando passagens de sua vida, o outro curte o prazer de estar ali, e um dia poder esta lá também.

Quanto às horas, bem, essas por natureza própria, corre sem esperar por ninguém. Valêncio sente no ar, a pureza de curtir sossegado seu cigarro de palha, no colo aconchegante de sua amável, companheira de velhas folgas, uma rede gentil.

Uma rede estendida, numa varanda arejada, recoberta pelas sombras, das frondosas e floridas sibipirunas e suas flores amareladas. Valêncio despojado como um rei em seu trono. Curte a vida regalada de prazeres, umas dores daqui outras aculá só pra remedia, algumas juntas já meio enferrujadas, os nervos, sem a mesma agilidade, de quando montava e saltava de um cavalo desprovido de respeito por seu domador.

Quando de um cumprimento, Valêncio fita um olhar firme, pois os olhos, já estão meio folgados, teimam a olharem preguiçosos, serenos e mansos, os ouvidos, procuram a repetição das palavras alheias, vindas de fora para dentro, mas derrepente finjam escutar só o que lhe convém, o que não interessa passa despercebido.

Para curtir mais ainda esse momento, os olhos observadores, entoa com um pedido vindo de improviso, um gostoso arroz doce, lhe é oferecido, é a dona da casa, provocando a gula do visitante, para saborear os ingredientes, que acabaram de sair do fogão à lenha e que além de tudo, conta com canela e cravo no recheio. Pronto tudo esta na mais alta honraria da casa.

Um retrato

Num instante, algo prende a atenção de Valêncio, e ele se vê, diante um retrato, nele uma imagem figura reluzente, é uma bela jovem desconhecida, que por ocasião, a ele é apresentada. Os olhos fitam firmemente a pequena imagem, com a voz serena um sonoro questionamento, quem é essa moça bonita? Os olhos observadores de pronto responde-lhe: também não a conheço, ela é mesmo muito bonita!

Derrepente, um momento interessante, é presenciado pelo encantamento que aquele retrato faz justo. Valêncio na aventura de seus 83 anos de vida se vê diante algo, que pode ter mexido nas suas lembranças juveniais, e o deportado no vazio do tempo. Entre uma tragada e outra, os olhos fitam somente o retrato, novamente silêncio, o olhar distante, na imensidão do infinito, como que se buscando no horizonte algo sobre ele mesmo.

Voltar no tempo, através do túnel da saudade, levado por acontecimentos, provocados por lembranças, de um tempo que não volta. Buscado no interior da alma, misturado as aventuras da juventude, assim os olhos observadores apercebe-se diante dele.

Como nada dura eternamente, a não serem as lembranças, os olhos observadores, pressentia que estava na hora, de deixar Valêncio, curtir sua majestosa rede, porém antes de ir.

O retrato da linda jovem, que esteve por longo período acariciado, admirado pelos olhos de Valêncio, esta quieta sobre um pequeno banquinho ao lado, ele por sua vez, atende ao pedido do corpo, lentamente vai se esguiando para traz, dali a pouco se entrega totalmente ao colo de sua rede.

O cigarro de palha, que contribuiu para o relaxamento, já não existe, o que resta, são apenas as cinzas esbranqueadas, formada pela mistura do fumo e palha, deposta no recipiente em cima do banco.

A última visão que se tem consagrada pelos olhos observadores, é a de um bravo guerreiro, diante a majestade divina, soberano da vida.

Valêncio olha para o teto da varanda, entoado pelo balançar sereno e manso redial.

Sabendo que só ele pode entender o significado que tem a grandiosidade de homem forte outrora, e repousando nos braços da velha saudade, protegida por seu templo, “corpo”. Assim seus olhos acalmam, logo é tomado por um suave sono, que o leva para seus sonhos.

Resta só, aos olhos observadores, agradece-lo pelo prazer de ouvir dele, um sonoro roncar de prazer, e agraciá-lo em “PAZ”.

O autor,

Gilmar Antonio de Oliveira

Gilmar Antonio
Enviado por Gilmar Antonio em 03/10/2010
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