PORTE DE RAINHA

PORTE DE RAINHA

A mulher era negra, alta e esguia. Caminhava altivamente, embora com roupas esfarrapadas. Vestia uma blusa azul com vários furos e uma saia justa de cor preta. Correntes douradas enfeitavam o pescoço fino. Nos pés trazia sandálias que tinham apenas a metade da sola. Ela, no entanto, caminhava como uma rainha. Nariz erguido, ombros descontraídos e passo firme. Caminhou do Lido ao posto 6, procurando um banco onde pudesse sentar-se, já que a praia estava especialmente cheia, naquele dia ensolarado. Quando conseguiu um espaço, se acomodou, abriu uma pequena bolsa que trazia pendurada no ombro e dela tirou um caco de espelho. Depois passou alguns minutos vasculhando a bolsa até que encontrou um batom. Delineou os lábios com maestria e sorriu satisfeita com o resultado. O vermelho fazia sobressair os dentes que, por incrível que pareça, eram perfeitos.

Eu a observava à distância e pude ver a sua felicidade ao ver-se no espelho. Imagino que ela estava se achando maravilhosa.

Realmente a beleza vem de dentro. Ela era mendiga, parecia meio louca, mas vaidosa. A sua feminilidade não havia sido alterada pela miséria ou pela loucura. Ela precisava se sentir bonita e, para ela, o uso do batom devia ser imprescindível.

Por que será que algumas pessoas perdem a vontade de se embelezar? Porque deixam de se amar, talvez. Porque não conseguem mais apreciar a beleza de um dia de sol, do canto dos pássaros, ou até de um dia de chuva, que também tem a sua beleza.

Quando uma pessoa deixa de ter a capacidade de agradecer pelas pequenas coisas que fazem a vida mais bela, ela começa a envelhecer. Quando ela não se sensibiliza mais com uma música, ela está perdendo a alegria da vida. Quando ela já não sabe mais chorar de alegria ou de tristeza, ela está morta.

Muita gente vive como um fantasma, perambulando pelo mundo, sem se encontrar. Estão mortas e não sabem.

edina bravo
Enviado por edina bravo em 08/10/2010
Reeditado em 29/05/2013
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