O JACARÉ DA LAGOA DA CASA DA VÓ BELMIRA

Vou contar mais esta sobre os bichos que nos cercaram na nossa infância. Se você como eu, viveu uma história assim, irá se ver nesta narrativa e relembrará os bons tempos da sua infância. Se por outro lado, você não vivenciou nada parecido ou ainda não viu um jacaré bem de pertinho, ficará sabendo um pouco sobre este réptil pantaneiro.

Lembro que esse jacaré era grande, bem maior do que os outros que eu já vira. Era na casa da minha avó Belmira, na lagoa da fazendinha Recanto, no município de Porto Murtinho, aqui no Mato Grosso do Sul, que ele morava e se expunha para o sol todos os dias ao meio-dia e também gostava de se aparecer nos finais da tarde.

Todos os dias na metade do dia ele saía da água e ficava exposto ao sol; nesse horário o sol era escaldante e ninguém ia à lagoa. O problema era no final da tarde, pois era nesse horário que as crianças tomavam banho para dormir.

No entardecer meus avós sentavam-se em frente a casa para o chimarrão e o meu avô apontava para a lagoa e nos mostrava o jacaré. Lá estava ele - belo e faceiro. Parecia que fazia parte dos momentos de reunião da família.

Então meus avós nos advertiam que quando fôssemos à lagoa não mexêssemos com o jacaré, pois ele só atacaria se fosse incomodado. O ataque seria com mordidas ou “laçaço” dado com o rabo. (Muita gente pensa que o jacaré é lento, mas não é, não; sobretudo se estiver sendo ameaçado, pode dar um bote certeiro e correr agilmente.)

Durante um bom tempo ouvimos notícias sobre esse jacaré - que tinha construído o ninho próximo à água e posto muitos ovos – e aí deduzo tratar-se de uma fêmea. Lembro de um ninho que vi, fora feito com folhas secas e partes de plantas secas, era coberto com folhas e areia. A advertência dos mais velhos dizia que a fêmea se torna mais agressiva e permanece perto do ninho para evitar o ataque de predadores como o lagarto tiú que morava também nos arredores da lagoa e alguns intrusos quatis que sempre apareciam por lá.

Atualmente, quando viajamos para esses lugares quase não vemos os bichos. Sumiram todos. Vemos, muito raramente, um ou outro animal morto nas rodovias.

Parece que essa história se passou há tão pouco tempo.

E até há pouco tempo éramos nós e os bichos...

Vicentina Vasques
Enviado por Vicentina Vasques em 09/10/2010
Reeditado em 10/02/2012
Código do texto: T2546895
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