O efeito Tiririca

Palhaço que não ladra morde. Contrariando expectativas, Francisco Everardo Oliveira Silva, conhecido popularmente como Tiririca, foi eleito com mais de um milhão de votos para o cargo de deputado federal por São Paulo. O voto sai caro e as eleições de três de outubro deixam uma incógnita: Nós, brasileiros, sabemos votar?

A alegação mais recorrente é a de voto de protesto, quando se lembra da eleição do comediante. Porém, em uma análise mais profunda, vê-se que tal voto constitui uma prática niilista das mais perigosas, pois pior do que está fica. O deputado federal fiscaliza as ações do executivo e, mais do que tudo, cria leis. Estaria capacitado para criar leis um político com ensino fundamental incompleto?

A Justiça Eleitoral decidiu acatar uma denúncia do Ministério Público Eleitoral contra Tiririca por suspeita de analfabetismo, o que nos traz à pergunta: Seríamos, nós, analfabetos políticos funcionais? A zombaria é a alma do negócio, e a fórmula deu certo. Em um cenário político palco de escândalos de corrupção, a figura do político cai em descrédito popular, o que torna propício o voto de protesto. O fato se agrava ao percebermos que a grande mídia (incluindo TV, rádio e internet) não informa a população sobre a importância dos diversos cargos em disputa, nem informa sobre os políticos honestos e leis importantes criadas. Fica, então, uma sensação de abandono político e descaso, o que torna possível o protesto irrefletido.

Os fins justificam os palhaços e o partido de Tiririca, o PR, sabe disso. Sem expressão e relevância, partidos menores sabem que candidatos que atraem grande massa de votos carregam consigo outros candidatos do partido, por conta do sistema de quociente eleitoral. Provavelmente, Tiririca dividirá o pleito com colegas de partido que tiveram algumas centenas de votos.

Diga-me em quem votas que direi quem és. Voto de protesto faz sentido quando nulo, pois não elege candidato algum e, em caso de obter 51% de nulos, a eleição é encerrada, apesar desta modalidade de voto ser discutível. Há, portanto, uma lógica. Porém, ao eleger candidatos incultos ou de apelo popular, porém sem conteúdo, nos tornamos vulneráveis aos seus desmandos e interesses. Quando um milhão quer, que os outros milhões briguem.

Caio Almeida
Enviado por Caio Almeida em 09/10/2010
Código do texto: T2547129
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